O assassinato de um homem de 43 anos, a tiros, em plena Praça José Bonifácio — literalmente em frente ao 5º Batalhão da Polícia Militar de Fortaleza — é mais do que um caso de homicídio. É uma afronta. Um tapa na cara da sociedade e uma gargalhada debochada na direção de um Estado que, ao que parece, não sabe mais onde está o leme da Segurança Pública.
Matar alguém em plena praça pública, no coração da capital, já é um ato de brutalidade. Fazê-lo diante de um quartel da PM é um símbolo. Um símbolo da falência do sistema. Um recado escancarado de que o crime não teme mais uniforme, distintivo ou sirene. Que não há limite, não há inibição, não há ordem que intimide. O criminoso não apenas age — ele desafia.
E o que faz o aparato estatal? Emite nota protocolar, sem nomes, sem respostas, sem um suspeito sequer detido. Como em tantos outros casos, a resposta é o silêncio engomado da burocracia. O crime age com ousadia, e o Estado responde com omissão. Não houve sequer o cuidado de informar o nome da vítima. Viramos números. Arquivos. Nada.
A cena é grotesca: um corpo estendido diante da sede de quem deveria ser símbolo de autoridade e segurança. Um batalhão inteiro de farda e armas — e, mesmo assim, ninguém viu, ninguém sabe, ninguém prende. É o retrato de um sistema de segurança que se tornou decorativo, ocupado com cerimônias, relatórios e discursos vazios, enquanto o cidadão comum é engolido pelo caos.
Não se trata de um caso isolado. É apenas mais uma demonstração de que, enquanto o governo se ocupa em narrativas e manuais de convivência, as ruas seguem sendo território das facções. A criminalidade não pede licença, não se intimida e, agora, sequer se esconde. E quando matar ao lado de um batalhão não gera sequer uma prisão, o que resta?
É preciso dizer com todas as letras: o crime se empoderou porque o Estado fraquejou. E continuará agindo com audácia enquanto as autoridades permanecerem inertes, confortáveis em suas notas vagas e investigações eternas. Enquanto isso, os que morrem são sempre os mesmos: anônimos, esquecidos, sem nome e sem justiça.
* Editor, ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará, ex-coordenador-geral da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (CIOPS), ex-diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), ex-diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI) e ex-delegado Titular da Delegacia de Combate ao Narcotráfico. Ex-secretário de Segurança de Aracati. Formado em Direito (Unifor) e especialista em Direito Processual Penal (Unifor). Jornalista, comunicador, radialista, palestrante e consultor de empresas na área de prevenção de comportamentos irregulares