O empresário Flávio Figueiredo Assis falou com exclusividade ao g1 e contou que a montadora brasileira começará a fabricar primeiro na China para acelerar a entrega do primeiro modelo. Protótipos serão testados em março do ano que vem, e o carro será 100% nacional até 2032. Flávio Figueiredo Assis é o CEO e proprietário da Lecar. O executivo promete entregar as primeiras unidades do 459 em agosoto de 2026
g1
O Brasil está prestes a voltar a ter uma marca de carro nacional, a Lecar. Iniciativa do empresário Flávio Figueiredo Assis, a empresa nasceu em 2022, com a ideia de ser a primeira fabricante moderna de carros elétricos do Brasil.
Assis não esconde que sua aspiração é ser uma versão brasileira do empresário Elon Musk, fundador da Tesla. Até mesmo o primeiro projeto da Lecar, o modelo 459, é uma espécie de SUV cupê, baseado no Tesla Model Y.
A própria Lecar, inclusive, deveria ser uma réplica nacional da Tesla, com carros 100% elétricos. Mas os planos mudaram conforme Assis percebeu a vocação do país para os motores híbridos.
“[A tecnologia 100% elétrica] mostrou suas falhas. A tecnologia híbrida flex é a melhor solução para o mercado brasileiro, e nós temos uma tecnologia imbatível”, afirma o executivo.
Com a troca para uma motorização híbrida, o 459 já tem detalhes conhecidos: motor 1.0 turbo, com potência combinada de 163 cv e 26 kgfm de torque. Tudo ao preço de R$ 147.900.
Segundo Assis, já há fila de espera aberta com mais de 1 mil encomendas. O protótipo já estará nas ruas em março de 2025, com entrega dos primeiros carros em agosto de 2026.
O empresário concedeu entrevista exclusiva ao g1, em que contou os detalhes sobre as adaptações feitas ao projeto 459, o avanço da instalação de sua fábrica no Espírito Santo e até sobre os novos modelos em desenvolvimento.
As principais novidades: a Lecar tem planos de produzir o primeiro 459 na China e também de lançar sua primeira picape híbrida, chamada “Cyber Campo”. Qualquer semelhança com a Tesla Cybertuck não é mera coincidência.
Veja a íntegra da entrevista abaixo.
Dono da Lecar promete 1º carro híbrido brasileiro para 2026 e anuncia projeto de picape
A seguir, clique nos links para assistir aos cortes com os principais destaques da entrevista.
Elétrico virou híbrido
Picape é o próximo carro
Lecar aposta em engenharia reversa de um Tesla
Concorrência com o barato carro chinês
Primeiros Lecar serão chineses
Planos futuros
Lecar tem Gurgel como exemplo para não errar
Elétrico virou híbrido
O que motivou a mudança de carro 100% elétrico para híbrido
No primeiro anúncio da fundação da Lecar, o carro brasileiro seria um sedã 100% elétrico. Em abril deste ano os planos mudaram: o 459 se tornou um SUV com motor híbrido pleno, em que a bateria é capaz de girar as rodas.
“A gente começou com o 100% elétrico. É uma tecnologia muito mais simples de fazer, por ser um tipo só de motor. Ele seria um carro com tiragem baixa, mas o cenário do mercado e os investidores apontaram para um modelo híbrido, unindo o melhor das duas tecnologias”, diz Assis.
Lecar 459
Divulgação | Lecar
A autonomia do 459, segundo Assis, alcançará os 1.000 km com apenas um tanque de combustível e ele não adotará qualquer sistema de recarga baseado em pontos de energia.
Para Assis, a escolha por um carro híbrido pleno parte do problema da infraestrutura de recarga que o Brasil possui. Como o motorista não precisa se preocupar com uma tomada, seja de baixa ou alta capacidade, este tipo de solução eletrificada virou a aposta da Lecar.
Veja a ficha técnica do 459:
Motor: 1.0 turbo;
Combustível: flex;
Potência: 122 cv a 5.000 rpm;
Torque: 22 kgfm;
Potência combinada: 163 cv;
Torque combinado: 26 kgfm;
Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,9 segundos;
Rodas: 18 polegadas;
Pneus: 225/50;
Preço: R$ 147.900.
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Picape é o próximo carro
Lecar tem planos para produzir a primeira picape híbrida brasileira
A caminhonete Cyber Campo será produzida sob a mesma plataforma do 459, com mesma potência e torque, mas não terá o porte da Cybertruck de Musk. O tamanho será semelhante ao da Fiat Toro.
Ela terá o mesmo sistema híbrido, muitas das peças, partes e troca a parte traseira por uma caçamba. As semelhanças com a Toro estão por toda parte, sobretudo na silhueta monobloco.
“A gente tentou compartilhar o maior número de itens possível. Farol, lanternas, volante, painel e banco. A ideia é ter um carro confortável tanto para o trabalho, quanto para o passeio ao final de semana”, adiantou Assis.
Por outro lado, a Lecar desistiu do projeto do Pop, que seria um carro elétrico com dimensão próxima do BYD Dolphin Mini. De acordo com Assis, o projeto não faria mais sentido, uma vez que o veículo seria menor e seu preço seria muito parecido ao do 459.
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Lecar aposta em engenharia reversa de um Tesla
Tesla é usado em engenharia reversa da Lecar
Um dos grandes desafios para qualquer indústria está na mão de obra especializada. Quando falamos de carros eletrificados, sejam eles 100% elétricos ou híbridos, existe um passo extra de conhecimento necessário para lidar com a produção.
Flávio acredita que este não é um desafio. Para o empresário, a saída de grandes marcas do Brasil, como Ford e Mercedes, fez com que muitos funcionários especializados estivessem disponíveis no mercado.
“Estes prestadores de serviços produzem carros de outras marcas. Ford foi embora, Mercedes também, então começou a sobrar mão de obra muito especializada no mercado. Para nós, essa disponibilidade ajudou muito”, diz Assis.
Para a especialização em um carro elétrico, a Lecar comprou um carro da Tesla e disponibilizou para que seus engenheiros pudessem desmontar todo o conjunto e entender como ele funciona.
Este movimento é chamado de engenharia reversa, muito comum no Brasil durante os anos de reserva de mercado, especialmente para a indústria de computadores.
Naquela época, entre 1984 e 1990, marcas nacionais desmontavam produtos de Apple, IBM e DEC, para entender o funcionamento dos componentes e replicar o que aprendiam em produtos brasileiros.
“Não é para copiar, é para pegar as melhores práticas”, comenta Assis.
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Concorrência com o barato carro chinês
“Os chineses são imbatíveis em carros elétricos”, diz CEO da Lecar
Com a produção em massa e mão de obra barata, os chineses têm inundado os mercados automotivos com veículos eletrificados de preço mais baixo. Apenas dois entre os 10 carros elétricos mais baratos do Brasil não são chineses: o Renault Kwid E-Tech e o Hyundai Kona EV.
“O chinês é muito especialista em carro elétrico, são imbatíveis. Mas, a gente aqui no Brasil domina os processos, domina a língua e estamos acostumados com o CustoBrasil”, comenta Assis.
Por isso, a Lecar aposta no motor híbrido flex, como as montadoras tradicionais que atuam por aqui têm feito. Para garantir custos menores e resolver problemas de pós-venda a Lecar também vai priorizar a produção de peças no Brasil.
“O carro é de acesso, de baixíssima manutenção e com 83% de peças produzidas em nosso país. Isso ajuda na reposição e no custo inferior de logística, facilitando o pós-venda”, comenta.
Por fim, as tecnologias embarcadas são de código aberto. O sistema operacional será o gratuito Linux, tanto para os mecanismos de base do veículo como para o ADAS, que comanda itens de segurança, como frenagem automática e piloto automático.
Segundo o empresário, a escolha por sistemas abertos permitiu que o custo de desenvolvimento de tecnologias próprias fosse reduzido.
“A gente trouxe essas facilidades para o carro, que ficou muito mais barato e rápido no desenvolvimento. Estamos testando internamente o nosso sistema até mesmo para controlar um Corolla, por exemplo”, comenta o executivo.
https://g1.globo.com/carros/noticia/2024/11/29/entrevista-dono-da-lecar-promete-1o-carro-hibrido-brasileiro-para-2026-e-anuncia-nova-picape.ghtml#8
Primeiros Lecar serão chineses
Primeiras unidades do carro 459 serão produzidas na China
Ainda que os chineses sejam os principais concorrentes e a proposta da marca Lecar seja permanecer nacional, a produção dos primeiros 459 vão começar na China, conta o empresário.“A gente estuda produzir esse carro, inicialmente na China e depois vir para montagem em CKD no Brasil e, depois disso, passaremos a ter a fabricação completamente nacional”.
“Nossa promessa é ter os primeiros protótipos rodando no Brasil com ajuda chinesa entre março e abril de 2025. Carro na mão do dono será em agosto de 2026″, comenta Flávio.
A ideia de começar com importados é acelerar o lançamento do veículo para não precisar aguardar a finalização da fábrica brasileira, no Espírito Santo.
Assis faz menção ao formato “white label”, termo que significa que um produto desenvolvido no exterior é comprado por uma empresa nacional, que apenas insere seu nome no produto.
Mas o empresário também dá a entender que pode adotar o formato OEM, muito comum em eletrônicos. Neste, a Lecar ofereceria para uma fabricante terceira todas as instruções de um carro 100% desenvolvido no Brasil. A única função da planta fabril é de “seguir a receita” e entregar um produto pronto.
A Apple faz isso com praticamente todos os seus produtos. O iPhone é desenhado, desenvolvido e testado nos Estados Unidos, mas companhias parceiras são responsáveis pela fabricação em massa, geralmente na China.
No mercado automotivo, este processo não é tão comum, mas existem companhias especializadas neste tipo de produção. A Magna Steyr é uma delas, responsável por fabricar veículos como E-Pace e I-Pace da Jaguar, o BMW Z4, Toyota GR Supra e o Mercedes Classe G.
Este tipo de fabricação permite uma maior velocidade de distribuição para os carros ou eletrônicos, sem que a Lecar precise firmar todos os contratos individuais para sua própria fábrica.
Assis comentou que a escolha por este tipo de fabricação terceirizada envolve a redução no prazo previsto para os primeiros carros chegarem ao Brasil.
“Eles vão executar um projeto nosso. É o desejável? Não, mas a gente ganha velocidade e experiência. Essa é uma flexibilidade que a gente aprendeu com o Gurgel”, explica.
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Planos futuros
Lecar conta com Mover para desenvolver seu carro híbrido
Enquanto a produção inicia em território chinês, a Lecar começa a erguer uma fábrica em Sooretama (ES), que promete ter a capacidade de 120 mil veículos por ano.
A Lecar tem investimento de R$ 870 milhões de capital próprio. Assis comenta que a escolha do local envolve ser sua terra natal, junto da região da Sudene, onde existem incentivos fiscais iguais aos do Nordeste.
De acordo com o empresário, agora é a hora certa para investir em uma nova fábrica de carros, sobretudo pela sobra de mão de obra especializada disponível no mercado por conta da saída de montadoras como a Ford e a Mercedes-Benz do Brasil.
“Temos o programa Mover e o Nova Indústria Brasil, com apoio do governo federal para esse desenvolvimento. Tem muito recurso para fornecedores desenvolverem novas tecnologias”, comenta Flávio.
O executivo diz que é possível iniciar a produção com 1 mil carros por mês, com possibilidade de compartilhamento da linha de montagem em que o excedente possa ser utilizado por outras empresas.
“Chamou a atenção do mercado exterior, essa capacidade de produção. A gente está sendo buscado para parcerias, para montar carros de outras montadoras e a gente vem estudando o que podemos fazer”, comenta Flávio Figueiredo de Assis.
“Meu desejo pessoal é juntar [a Lecar] com outros grupos brasileiros importantes. Todas as propostas de investimento que temos são de estrangeiros, mas a gente gostaria de juntar com outras nacionais”, complementa.
Lecar tem Gurgel como exemplo para não errar
História da Gurgel é usada como exemplo pela Lecar
Assis comenta que o criador da antiga marca de carros brasileiros, João Augusto Amaral Gurgel, é uma de suas referências para a criação de sua companhia.
Não somente o pioneirismo da marca Gurgel e reconhecimento internacional são importantes para a Lecar, mas também um de seus funcionários: um engenheiro que trabalhou com Gurgel está no time de desenvolvimento do novo carro eletrificado nacional.
“O Seu Urias é um engenheiro que trabalhou com o Seu Gurgel. Eu sempre pergunto como é que era, como ele [Amaral Gurgel] tocava o negócio?”, diz o empresário.
“Um dos exemplos utilizados pela marca Gurgel está no compartilhamento de outras peças de marcas internacionais”, afirma Assis.
Este detalhe faz o carro nacional não ser totalmente brasileiro, um exemplo seguido por Amaral Gurgel. Para Assis, perseguir o completo desenvolvimento de todas as partes no Brasil faz o lançamento do veículo ser atrasado em alguns anos.
“A gente acredita que teremos esse carro 100% nacional, com tecnologia e processos todos daqui, em 2032. O sonho que ele [Amaral Gurgel] sonhou, do carro 100% nacional, é uma coisa de longo prazo para a gente”, comenta Assis.
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Fonte: G1