Relatório final da PF no inquérito do golpe se tornou público nesta terça por ordem de Alexandre de Moraes. Documento com 37 indiciamentos foi enviado à PGR, que vai analisar se apresenta denúncias. A Marinha divulgou uma nota oficial nesta quarta-feira (27) em que nega ter colocado tanques militares de prontidão para um possível golpe de Estado em 2022.
A informação consta em mensagens obtidas pela Polícia Federal – que revelam, entre outros pontos, que o comandante da Marinha naquele momento, almirante Almir Garnier, tinha aderido ao plano golpista articulado durante o governo de Jair Bolsonaro.
🔎 O relatório de 884 páginas da PF, concluído na última semana, foi tornado público nesta terça (26) por determinação do relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes. O documento está com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai decidir se denuncia os 37 indiciados.
“Em relação às matérias veiculadas na mídia que mencionam ‘tanques na rua prontos para o golpe’, a Marinha do Brasil (MB) afiança que em nenhum momento houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados para a execução de ações que tentassem abolir o Estado Democrático de Direito”, diz a nota da Força Armada divulgada nesta quarta.
A menção aos tanques, no entanto, não consta apenas nas “matérias veiculadas na mídia” – mas sim, no próprio relatório da Polícia Federal. Especificamente, em mensagens de um homem identificado apenas como “Riva”.
PF: Garnier tinha tanques prontos para golpe
Prints dessa conversa foram enviados pelo tenente-coronel Sergio Cavaliere para o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, à época ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
“O Alte [Almirante] Garnier é PATRIOTA. Tinham tanques no Arsenal prontos”, diz Riva.
“Para mim, o 01 [Jair Bolsonaro] tinha que ter rompido com a MB [Marinha], que o EB [Exército] e a FAB [Aeronáutica] iriam atrás”, diz o interlocutor de Riva.
No comunicado divulgado nesta quarta, a Marinha diz que o aparato militar da instituição “não foi e não será” desviado para iniciativas como o golpe de Estado.
“Sublinha-se que a constante prontidão dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais não foi e nem será desviada para servir a iniciativas que impeçam ou restrinjam o exercício dos Poderes Constitucionais”, diz a nota.
“A Marinha do Brasil, instituição nacional, permanente e regular, assegura que seus atos são pautados pela rigorosa observância da legislação, valores éticos e transparência. Ademais, a MB encontra-se à disposição dos órgãos competentes para prestar as informações que se fizerem necessárias para o inteiro esclarecimento dos fatos, reiterando o compromisso com a verdade e com a justiça”, conclui.
As mensagens reforçam a tese de que havia articulação militar entre setores das Forças Armadas para apoiar ações autoritárias que poderiam culminar em uma ruptura institucional.
O material faz parte das investigações que apontam o planejamento de um golpe de Estado por aliados de Bolsonaro, utilizando narrativas de fraude eleitoral como justificativa para medidas extremas.
A adesão de figuras estratégicas das Forças Armadas, como o Almirante Garnier, sugere que havia suporte logístico e militar para sustentar a ação golpista, caso ela fosse desencadeada. As revelações agravam as acusações contra os envolvidos e levantam novos questionamentos sobre o papel das Forças Armadas no contexto da tentativa de subversão democrática.
O almirante Almir Garnier Santos foi comandante da Marinha no governo Bolsonaro
Reprodução
PF encontrou documento intitulado “Operação 142”
Tanques no Palácio do Planalto
Nomeado por Bolsonaro, Garnier assumiu o comando da Marinha em 9 de abril de 2021, servindo até o fim do mandato. Em agosto do mesmo ano, Garnier mandou blindados e outros veículos militares do Rio de Janeiro até o Palácio do Planalto a fim de entregar a Bolsonaro um convite para um exercício militar.
O “desfile”, em 10 de agosto, caiu no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados votaria — e derrubaria — a proposta do voto impresso.
VÍDEO: Blindados e outros veículos militares desfilam em frente ao Palácio do Planalto
Segundo o almirante, a Marinha já tinha definido a data do desfile quando Lira decidiu marcar a votação.
“Foi uma coincidência de datas, que nós não tínhamos como prever”, justificou Garnier. “Então talvez isso é que tenha criado todo um pouco de ruído, né? Porque, no final das contas, a gente, as Forças Armadas são extremamente cumpridoras da lei e da ordem”, afirmou o almirante.
Após o 7 de Setembro de 2021, militares planejaram tirar Bolsonaro do país, caso ele fosse alvo de investigações
‘Rasgaram o documento que o 01 assinou’, dizem militares
Fonte: G1