Camarotti: PF liga ataque de Bolsonaro às urnas a trama golpista
Generais do Exército ouvidos pelo blog nesta quarta-feira (27), um dia após a divulgação do relatório da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, demonstraram perplexidade diante da coordenação dos ataques a integrantes do alto comando da corporação que resistiram às pressões do grupo golpista.
Entre as ações coordenadas, e que constam na investigação da PF, estão a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro”, documento de teor golpista que buscava incitar a alta cúpula militar a intervir no processo democrático, além de ataques em redes sociais.
Segundo esses generais ouvidos pelo blog, ficou claro que as ações tinham o mesmo modus operandi, contavam com a participação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, e tinham sinal verde do Palácio do Planalto.
Trecho do relatório da PF que fala sobre os alvos do grupo golpista.
Reprodução
Entre os alvos do grupo estão generais quatro estrelas como general Richard Nunes, o então comandante militar do Nordeste e hoje o comandante do Estado-Maior do Exército; o general Tomás Paiva, que era o então comandante militar do Sudeste e hoje o comandante do Exército; e o general Valério Stumpf, que era o então comandante do Estado-Maior do Exército.
Esses generais quatro estrelas — que deram respaldo ao então comandante do Exército Freire Gomes manter a linha legalista — eram chamados em ataques nas redes sociais de “melancias”, uma referência ao verde da farda, que seria a parte externa da melancia, e ao vermelho da parte interna da fruta que remeteria a cor do comunismo.
Trecho do relatório da Polícia Federal com ataques a comandantes do Exército nas redes sociais.
Reprodução/PF
Outro trecho do relatório da PF mostra que o próprio Braga Netto orientou Ailton Barros – um ex-capitão do Exército que, segundo a PF, incitava militares – a incentivar pressões e ataques contra os comandantes do Exército e da Aeronáutica.
Em trocas de mensagens com Ailton Barros no dia 14 de dezembro de 2022, Braga Netto chamou Freire Gomes de “cagão” e declarou que a cabeça do então comandante do Exército deveria ser oferecida aos leões.
Em resposta, Ailton Barros sugere continuar com a pressão sobre Freire Gomes, caso este insistisse em não aderir ao golpe de Estado.
“Vamos oferecer a cabeça dele aos leões. Braga Netto concorda dá a ordem: ‘Oferece a cabeça dele. Cagão'”, afirma outra parte do relatório.
Segundo a PF, Braga Netto também orientou a Ailton Barros a disseminar ataques contra o comandante da Aeronáutica Baptista Júnior, a quem chamou de “traidor da pátria”.
No dia 15 de dezembro de 2022, segundo a PF, Braga Netto enviou mensagem a Ailton Barros, mandando “sentar o pau no Baptista Junior” e também dizendo para “infernizar a vida dele e da família”.
Fonte: G1