Documentos encontrados na mesa do assessor de Braga Netto indicam a busca por informações. Grupo também tentou criar narrativa que pudesse contrapor as informações da delação de Cid. O relatório da Polícia Federal (PF) que teve o sigilo retirado nesta terça-feira (26) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), descreve a participação de citados e indiciados no “inquérito do golpe” apontam que os envolvidos se empenharam em obter informações privilegiadas sobre o acordo de delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
O relatório colocou o ex-presidente como figura central no esquema de tentativa de golpe de Estado.
A PF encontrou documentos na mesa de coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor do general Braga Netto, que indicam a busca por informações sobre o conteúdo da delação de Cid e mostra a preocupação dos indiciados sobre o que poderia ter sido delatado.
Além da preocupação com a delação ter relatado ações de Braga Netto, o grupo aparentava estar apreensivo com a PF tendo obtido o documento “Minuta do 142”, que esboçava o decreto de instauração do estado de exceção no Brasil.
O documento aponta: “O contexto do referido documento confirma que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por MAURO CESAR CID com a Polícia Federal. Ademais, cabe ressaltar que o documento estava na mesa do coronel PEREGRINO, assessor do general BRAGA NETTO, figura central nos atos que tinham o objetivo de subverter o regime democrático no Brasil logo, pessoa interessada em saber o conteúdo do que fora revelado pelo colaborador.”
As anotações demonstravam a preocupação do grupo com o que o ex-ajudante de ordens poderia ter revelado na colaboração. A frase “GBN não é golpista, estava pensamento democrático de transparência das urnas” aponta uma tentativa do grupo de construir uma narrativa que pudesse contrapor as informações fornecidas por Cid.
O relatório aponta que, poucos dias após a homologação do acordo de delação premiada, um dos indiciados, o general Mário Fernandes, relatou em mensagem ao coronel reformado Jorge Luiz Kormann que os pais de Cid teriam ligado para os generais Braga Netto e Augusto Heleno em 12 de setembro de 2023, afirmando que as informações divulgadas pela imprensa em reportagens sobre a delação eram “mentira”. Segundo a PF, esse contato reforça o interesse do grupo em obter informações sobre o que Cid teria relatado.
PF obteve captura de tela de diálogo entre o general Mario Fernandes e Kormann, contando sobre uma ligação dos pais de Mauro Cid
Reprodução/PF
Segundo a PF, “o contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio.
Perguntas feitas possivelmente a Cid
Um dos documentos encontrado continha respostas dadas, possivelmente pelo ex-ajudante, a questionamentos feitos por algum integrante do grupo (a PF não revela quem seria a pessoa). Há um trecho em que é perguntado sobre a “minuta do 142” e a possível menção a Braga Netto na delação.
Foram feitas três perguntas e há três respostas:
A primeira resposta, afirma a PF, foi dada na primeira pessoa, indicando que possa ter sido escrita ou repassada pelo próprio Cid. O questionamento é sobre o que foi delatado sobre as “reuniões”. “Na resposta a pessoa afirma que ‘nada’ e, em seguida explica como teria dado a explicação: ‘Eu não entrava nas reuniões. Só colocava o pessoal para dentro’.”
A segunda resposta foi sobre a existência da “minuta do golpe” (minuta do 142). O documento aponta que a resposta é dada de forma lacônica, se referindo, possivelmente aos investigadores da PF. Diz: “Eles sabem de coisas que não estavam em lugar nenhum (e-mail, celular etc)”.
A terceira resposta foi para saber se a PF saberia da participação do assessor Filipe Martins na tentativa de golpe de Estado. Novamente, de forma breve, a pessoa responde: “Sabem dele por outros meios”.
Relatório da PF mostra íntegra de documento encontrado com assessor de Braga Netto que indica que grupo tentava obter informações da delação premiada de Mauro Cid
Reprodução/PF
A PF afirma que chama a atenção que no final do documento há uma espécie de “considerações pessoais”, que seriam informações expressas pelo próprio Cid.
“Nesse ponto, é descrito que ‘Perguntaram muito do Gen. Mario’, referindo-se ao general Mario Fernandes, também investigado na trama golpista. Além disso, ressalta que ‘Não falou nada sobre os Gen. Heleno e BN’, tratando-se possivelmente de General Heleno e Braga Netto e ainda enfatiza que teria feito uma defesa de BRAGA NETTO ao afirmar: ‘GBN não é golpista, estava pensamento democrático de transparência das urnas’.
‘Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento do planejamento operacional’, diz o inquérito do golpe
Fonte: G1