O coordenador de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça de Alagoas, desembargador Tutmés Airan, encaminhou na sexta-feira (3) um requerimento ao delegado-geral da Polícia Civil, Gustavo Xavier, para que a denúncia da violência cometida por policiais militares no Terreiro Abassá de Angola seja investigada na Delegacia Especial dos Crimes contra Vulneráveis Yalorixá Tia Marcelina.
O caso foi motivado após um jovem de 18 anos denunciar cinco policiais militares por agressão, ameaça e por invadir um terreiro de candomblé, onde ele mora com a avó, que é fundadora do local. Ele disse que foi agredido para denunciar os nomes dos traficantes da região da Cidade Universitária.
O desembargador disse ainda que a comissão vai solicitar uma reunião aos Comandos de Policiamento da Capital e do Interior para saber como estão sendo feitas as abordagens dentro dos terreiros, por parte dos policiais militares, e “as possíveis alterações necessárias e urgentes nesses padrões de policiamento”. Além dos terreiros, o desembargador quer saber como funcionam as abordagem em igrejas (católicas e evangélicas) e templos religiosos.
“Não podemos aceitar outros Quebras, seja qual for a circunstância. Este caso figura em, pelo menos, três dos eixos de prioridade de atuação na Coordenadoria dos Direitos Humanos do Tribunal de Justiça de Alagoas: o enfrentamento ao racismo estrutural, a atenção às vítimas e prevenção da violência policial, e o combate à intolerância e promoção da liberdade religiosa. No mais, assinamos no Poder Judiciário um Pacto Nacional pela Equidade que se estende ao comprometimento com estas questões”, disse o desembargador.
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Terreiro de candomblé teve portas arrombadas por PMs em Maceió — Foto: Pedro Gomes
Denúncia contra policiais militares
O advogado do jovem de 18 anos disse, em entrevista, que os policiais militares agrediram a vítima por acreditarem que ele envolvimento com o tráfico de drogas na Cidade Universitária. Além de ser agredido, os policiais invadiram o terreiro e reviraram o local . Nenhum material ilícito foi encontrado.
“Ele foi abordado na rua e levado para dentro de uma viatura. Levaram ele para uma casa abandonada e bateram muito nele. Chegaram a mostrar drogas e fizeram ele segurar uma arma, para ficar a digital dele lá. Então, eles ameaçaram que se ele não entregasse os traficantes, ele seria responsável pela droga e a arma que eles estavam mostrando”, relatou o advogado.
A defesa do jovem disse que a abordagem violenta da polícia se deu pela cor da pele do jovem, que é neto da Yalorixá Mãe Vera, fundadora do terreiro Abassá de Angola, que morreu em setembro do ano passado.
“Ele é um negro retinto, de pele bastante escura. Acreditamos que esse é o motivo principal para uma abordagem dessa forma. Ele estava em um bairro onde existe o tráfico, foi encontrado lá caminhando e foi pego”, disse o advogado.
Pedro Gomes conta que após as agressões, os policiais foram até o terreiro de Mãe Vera, onde o jovem mora, à procura de drogas. Segundo a defesa, os PMs arrombaram a porta e reviraram o local.
“Se fosse uma igreja evangélica eles fariam isso? Não houve respeito algum, eles não respeitaram por se tratar de uma religião de matriz africana. Reviraram o lugar, arrombaram a porta, mas não encontraram nenhuma droga lá. Mesmo assim, ainda levaram ele de volta a casa abandonada para bater nele ainda mais”, afirmou.