Nesta sexta-feira (3) faz cinco anos do tremor de terra que mudou a geografia de Maceió e a vida de milhares de pessoas. No dia 3 de março de 2018, um abalo sísmico na cidade foi o ponto de partida para uma investigação sobre o surgimento de rachaduras e afundamento do solo que atingiram os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e parte do Farol.
O dano causado pela extração de sal-gema feita durante décadas pela Braskem é um dos maiores desastres socioambientais da história do país. A petroquímica diz que “vem adotando medidas com foco na segurança das pessoas e na busca de soluções para os efeitos do fenômeno geológico, em colaboração estreita com o poder público” (leia mais abaixo o posicionamento completo da empresa).
A Defesa Civil elaborou um Mapa de Linhas de Ações Prioritárias em que recomenda a realocação de mais de 14 mil imóveis e monitoramento constante das áreas com instabilidade, afetando cerca de 55 mil pessoas que foram obrigadas a deixar suas moradias e seus negócios. Mas ainda há quem resista nos bairros fantasmas que se formaram com a desocupação em massa, à espera de indenizações que consideram justas.
Andrea Karla Amaral é uma das pessoas que moram no Pinheiro desde criança. Ela conta que recusou todas as propostas feitas pela Braskem por meio do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação porque, segundo ela, não correspondiam ao valor da casa e dos danos que a família vem sofrendo.
“Morei 30 anos aqui. Minha mãe morreu em 2019, no meio a todo esse problema. E eu fiquei só com meus dois filhos lutando por uma coisa melhor. Até hoje não acredito que estou passando por esse cenário. Passo o dia sem acreditar, só sabe quem ainda mora aqui. Até hoje a proposta dela [Braskem] é inviável”, disse Andrea.
A padaria do Nijauro Filho é a única aberta no Pinheiro. Os poucos clientes que ainda frequentam o local vêm de outros bairros. O comércio é de família e são mais de 30 anos de história. Ele também segue na luta por uma proposta justa para poder começar o negócio em outro lugar.
“Meu pai construiu isso aqui. Passou a vida toda nesse lugar. São cinco anos de drama, recebendo pressão da Defesa Civil para deixar o local, a Justiça dando alvará de despejo e a gente sempre resiste e não sai”, disse.
O que diz a Braskem
Por meio de nota, a petroquímica afirmou que “vem adotando medidas com foco na segurança das pessoas e na busca de soluções para os efeitos do fenômeno geológico, em colaboração estreita com o poder público”.
Destacou ainda que mais de 99% das famílias já foram realocadas, de forma preventiva das áreas de desocupação e monitoramento definidas pela Defesa Civil de Maceió e que “das mais de 18,7 mil propostas de indenização apresentadas, 83% já foram pagas. O índice de aceitação das propostas é superior a 99%”.
A respeito das ações nos bairros desocupados, a petroquímica afirmou que “vem implementando as ações sociourbanísticas, ambientais e de estabilização e monitoramento previstas no Acordo Socioambiental, firmado em dezembro de 2020, além das medidas definidas no acordo que visa a integração urbana e o desenvolvimento socioeconômico dos Flexais, homologado em outubro de 2022”.
A Braskem disse ainda que mantém na região desocupada uma equipe de mais de 300 profissionais que se revezam 24 horas por dia, sistemas de câmeras e alarmes para garantir a segurança patrimonial nos trechos desocupados, mas ressalta que “a segurança pública não é responsabilidade da Braskem, e a empresa não tem poder de polícia. As medidas são adicionais e todas as ocorrências devem ser comunicadas às autoridades competentes”.
Sobre os casos dos moradores citados na reportagem
A empresa também explicou , na nota, a situação de cada um dos moradores citados na reportagem que resistem em deixar seus imóveis nas áreas de risco. Veja abaixo:
“Em relação à Sra. Ana Karla Amaral, após duas reanálises, a proposta de compensação financeira foi recusada. As tratativas no âmbito do PCF foram encerradas, e o caso foi encaminhado para a 3a Vara da Justiça Federal de Alagoas, para que o Poder Judiciário determine o valor da indenização pelo imóvel”.
“O Sr. Vaildo Farias de Araújo é titular de cinco casos no PCF, dos quais quatro tiveram propostas aceitas e um, relativo à atividade econômica de marcenaria, está atualmente em fase de reanálise da proposta”.
“O Sr. Nijauro envolve 5 imóveis. Em um deles, funciona a Padaria Nossa Senhora da Conceição. A proposta de compensação financeira foi aceita no último dia 12 de janeiro, após a conclusão de reanálise e elaboração de Parecer Técnico Independente. Agora, o termo de transação será enviado para a assinatura e, na sequência, encaminhado para a homologação e pagamento”.
Fonte: G1