A Polícia Federal concluiu que o presidente Jair Bolsonaro não interferiu politicamente na instituição. O inquérito foi aberto em abril de 2020 a pedido da Procuradoria-Geral da República para averiguar informações apresentadas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
Ao se demitir dias antes, Moro disse que Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal. Moro afirmou que essa interferência se deu com a exoneração do diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, com a indicação de Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro. Moro também afirmou que o presidente tentou trocar o superintendente da PF no Rio.
“O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente “, afirmou Moro na ocasião.
Moro disse que o desejo de interferência política teria ficado claro na reunião ministerial de 22 de abril de 2020. Num dos trechos da reunião, o presidente Bolsonaro reclama que não recebe informações e, dizendo um palavrão, diz aos ministros que não vai esperar que sua família ou amigos sejam prejudicados para fazer trocas na equipe.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final”, disse Bolsonaro na reunião.
O presidente Bolsonaro afirmou que nesse momento estava se referindo a uma tentativa, sem sucesso, de trocar a segurança pessoal sua e de sua família no Rio de Janeiro. Mas uma reportagem do Jornal Nacional mostrou que 28 dias antes da reunião, o presidente trocou o comando da sua segurança, o que indica que o presidente não tinha motivo para se queixar de não conseguir alterar nomes da sua segurança.
No relatório divulgado nesta quarta-feira (30), a PF afirma: “Não há elementos mínimos suficientes para afirmar que os atos de exoneração e nomeação do diretor-geral da PF foram praticados para atender interesses pessoais ou políticos do presidente da República ou de seus filhos e políticos aliados”.
Ainda de acordo com o documento, “mesmo na hipótese de que o ato de exoneração do diretor-geral da Polícia Federal Valeixo para a nomeação do DPF Ramagem tenha infringido princípios da administração pública, sobretudo o princípio da impessoalidade, não há nos autos indícios consistentes que corroborem com essa tese”.
O inquérito também investigou a conduta de Sergio Moro ao afirmar que Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal. Nesta quarta-feira, a PF afirmou que não houve comportamento de Moro que ferisse a lei penal e, por isso, pediu o arquivamento da investigação.
Segundo o documento, “não há elementos indiciários que demonstrem a falsa imputação de crime pelo noticiante, o que enseja igual arquivamento”.
Nesta quarta (30), depois de quase dois anos de investigação, a Polícia Federal concluiu pelo arquivamento do inquérito. De acordo com o documento, “nenhuma prova consistente foi encontrada. Muito pelo contrário, todas testemunhas ouvidas foram assertivas em dizer que não receberam orientação ou qualquer pedido, mesmo que velado, para interferir ou influenciar investigações conduzidas na Polícia Federal”.