O número de baianos que não se alimenta como deveria, com qualidade e em quantidade suficiente, cresceu ainda mais depois da pandemia do novo coronavírus. Segundo o secretário de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS), Carlos Martins, 1,9 milhões de pessoas cadastradas no CadÚnico vivem com entre R$ 89 e R$ 150 por mês.
“Nós temos o Cadastro Único com 3.450 milhões famílias. O CadÚnico já lhe dá uma ideia da pobreza na Bahia, porque 1,2 milhões vivem com até R$ 89 por mês, 1,9 milhões vivem com entre R$ 89 e R$ 150”, explicou o secretário da SJDHDS, Carlos Martins.
“Então a gente já sabe o número mais ou menos, e onde estão localizados, que é basicamente na região do semiárido da Bahia, que temos boa parte do nosso território. Com o CadÚnico nós temos a noção exata de onde estão a extrema pobreza, a fome”.
Essas consequências da fome agravam ainda mais a vulnerabilidade à Covid-19. Os dados da última pesquisa divulgada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) sobre segurança alimentar, em 2018, revelavam o seguinte cenário.
- Segurança Alimentar: 59,01%
- Insegurança Alimentar Leve: 22,09%
- Insegurança Alimentar Moderada: 14,6%
- Insegurança Alimentar Grave: 3,4%
Em entrevista ao G1, o secretário da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS), Carlos Martins, afirmou que a maior parte das pessoas que vivem em extrema pobreza e convivem mais perto com a insegurança alimentar moram no semiárido.
“A Bahia é um estado de 14 milhões de habitantes, a maior economia do Nordeste, mas também tem uma boa parte da população no semiárido e vivendo em extrema pobreza. Segundo os dados do CadÚnico, a Bahia é o estado que mais recebe Bolsa Família, isso quer dizer que a questão da fome é uma preocupação muito forte”, disse o secretário.
Segundo a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS), desde o início da pandemia, o orçamento do órgão foi direcionado às ações de enfrentamento à fome e à vulnerabilidade social, que aumentaram sensivelmente desde março de 2020.
A situação preocupa já que os níveis de insegurança alimentar podem causar impactos à saúde, como a perda de energia até a morte. E a falta de dados recentes prejudica a criação de políticas públicas para atender a população.
A pesquisa da SEI foi feita em 3.956 casas em Salvador a partir de 218 setores censitários e 18 distritos entre setembro e novembro de 2017.
Mesmo com a falta de dados mais recentes, o secretário de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esporte e Lazer de Salvador (Sempre), Kiki Bispo, é taxativo ao revelar que o número de pessoas em insegurança alimentar, que já vinha em crescimento, aumentou ainda mais durante a pandemia.
“A gente percebe pelos nossos equipamentos. Nós temos 28 CRAS [Centro de Referência da Assistência Social], sete CREAS [Centro de Referência Especializado de Assistência Social], e temos quatro centros voltados a população de rua. Então, naturalmente a gente percebe que a procura pelos nossos equipamentos tem crescido. Isso é um índice muito claro de que a pobreza tem aumentado”, disse o secretário.
Segundo o secretário da Sempre, outro aspecto que precisa ser levado em conta é a segunda onda da Covid-19 e a suspensão do auxílio emergencial do governo federal nos últimos meses.
“Na verdade, assim, o primeiro fato que devemos levar em conta é que nós estamos já em uma segunda onda da Covid-19, que voltou mais agressiva e que trouxe novamente as medidas restritivas. Essas medidas fecham comércio, elas pedem para que as pessoas fiquem em casa, então isso impacta diretamente na economia”, disse Kiki Bispo.
![Prefeituras bairros ofertam uma quentinha por dia — Foto: Vitor Santos / Ascom Sempre](https://s2.glbimg.com/S72_Qz-AWpfePibzF2vuJaLqYQA=/0x0:1242x910/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/S/T/29A1KsSz2fvHkwc9yfAQ/whatsapp-image-2021-04-13-at-15.12.25.jpeg)
“Quando você tem esses indicadores, você acaba afetando também a parte social. É por isso que o número da pobreza e da extrema pobreza tem aumentado no nosso país, porque as empresas estão fechando, as lojas estão fechando e os impactos são vistos a olho nu pelas pessoas”, afirmou.
“Você percebe o aumento das pessoas em situação de rua, o aumento de desempregados, você percebe o aumento de pessoas em estado de vulnerabilidade social. Então isso traz impactos diretos”.
Segundo a Sempre, dados revelados pelo Cadastro Único da prefeitura mostram que a situação de pobreza e extrema pobreza da população também são usados para verificar a situação de segurança alimentar, já que informam a condição das famílias de adquirir e consumir os alimentos em quantidades necessárias e suficientes.
Os números apontam que mais de 170 mil pessoas vivem em situação de extrema pobreza. Já mais de 36 mil estão cadastrados como pobres em Salvador.
- CadÚnico extrema pobreza – 170.174
- CadÚnico pobreza – 36.736
Para tentar amenizar o sofrimento dessas pessoas, a prefeitura de Salvador, que antes cobrava R$ 1 em uma quentinha nos dois restaurantes populares, passou a ofertar a alimentação de graça.
“Além disso, nós aumentamos a oferta, porque percebemos que a procura aumentou muito nesse período. Ela pulou de 700 para 1.000 quentinhas entregues por dia”, contou Kiki Bispo.
![Prefeitura de Salvador, que antes cobrava R$ 1 em uma quentinha nos dois restaurantes populares, passou a ofertar a alimentação de graça — Foto: Vitor Santos / Ascom Sempre](https://s2.glbimg.com/5LlMGQ6w2G2y3AzNXBxYwwNCnVo=/0x0:1242x819/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/N/I/AgAo4hRDKiajh3K3vdzg/whatsapp-image-2021-04-13-at-15.12.26.jpeg)
De acordo com a prefeitura, as duas unidades, que ficam em Pau da Lima e São Tomé de Paripe, têm nutricionistas permanentes, cardápios variados com balanceamento das refeições.
“Então existe todo um critério, eu posso garantir que é uma estrutura de qualidade e quem fala isso são nossos assistidos que estão lá. Em muitos casos é a única refeição deles no dia”.
Salvador ainda conta com outros dois restaurantes populares, administrados pelo governo do estado, que ficam no bairro do Comércio e da Liberdade, e também cobram R$ 1 no prato de comida. Crianças com menos de cinco anos têm a refeição gratuita.
O secretário de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia, Carlos Martins, revelou ao G1 que uma pesquisa feita com os assistidos apontou que 74% das pessoas fazem a única refeição do dia no local.
“Nós fizemos uma pesquisa com os usuários do Restaurante Popular e 74% deles só tem uma refeição por dia. Então nós temos muitas pessoas com insegurança alimentar”, apontou.
![Unidades do restaurante popular funcionam aos fins de semana, em Salvador — Foto: Divulgação/SJDHDS](https://s2.glbimg.com/q0UJTqFpSdFW62IAicXs7rX0I-s=/0x0:1280x853/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/R/w/eRNc81RsiNmkXy5KVAmg/ascomsjdhds.jpeg)
Fonte: terrabrasilnoticias