Diego Lugano não veste mais a camisa do São Paulo. Na tarde desse domingo, depois de ser titular no empate com o Bahia no Morumbi, o zagueiro de 37 anos encerrou sua segunda passagem pelo Tricolor do Morumbi e, de presente, recebeu uma camisa com a assinatura de todo o grupo enquadrada e pelas mãos do atual presidente Carlos Augusto de Barros e Silva. Claramente emocionado com o momento, Lugano concedeu entrevista coletiva, sua última como atleta são-paulino, em que fez questão de demostrar toda sua gratidão, mas não soube responder nem sobre aposentadoria nem sobre uma eventual continuidade no clube como coordenar técnico.
“Não consigo falar de mim. Para falar de mim tenho que falar de meus companheiros. Como falei no vestiário, o importante é sempre a paz interior por ter dado tudo ao São Paulo, por ter recebido também do São Paulo coisas que nunca sonhei. Sou o cara mais grato do mundo, sou o cara mais feliz do mundo por ter vivenciado, na derrota ou na vitória, sempre com a mesma intensidade, e é o que me deixa muito tranquilo para tomar qualquer decisão que eu tenha que tomar”, disse, antes de emendar na questão que lhe aflige tanto: o momento de parar.
“Essa pergunta sempre é muito complicada, porque o momento de parar você nunca sabe certamente quando é. Eu, depois da Copa no Brasil, tive seis meses parado por causa de uma contusão. Eu achava que a contusão tinha encerrado minha carreira, demorei para recuperar, mas consegui recuperar. Aquele tempo perdido eu, internamente, ainda não recuperei. Não tenho como pensar muito profundamente. E sempre procuro escutar profissionais, gente capacitada que pode me ajudar a decidir a hora de parar. Eu tenho um pouco esse medo de tomar uma decisão precipitada. Preciso de mais tempo para saber se tenho capacidade, e com os últimos meses tão emocionantes, não tenho tido tempo de pensar nisso”, explicou.
E essa dúvida sobre seguir ou não na carreira talvez seja o único empecilho para Lugano confirmar um “fico” ao São Paulo. Nesse domingo, o uruguaio admitiu que foi convidado a assumir um cargo diretivo que tivesse relação direta com o grupo do futebol.
“Como vocês sabem, o São Paulo se aproximou um pouco para saber minha ideia de vida, para tentar falar acercar que eu ficasse, mas é tudo o que eu falei antes, eu não consegui dar uma reposta, sequer abri muito diálogo. Seria muito irresponsável, primeiro comigo mesmo, depois com o clube, com a torcida. Obviamente, senão paro hoje eu pararei em seis meses ou um ano, mas nesse momento estou vivendo esse momento incrível que nunca pensei que pudesse chegar a viver. Daqui uma semana, fora do barulho, com certeza analisarei mais friamente”, contou.
Quando questionado sobre um vídeo que recebera na véspera de seu derradeiro jogo com a camisa do São Paulo feito pelo clube e com a participação de todos os atletas, Diego Lugano titubeou, como acontece apenas raramente, e assumiu que acabou chorando escondido. Escondido porque se negou a assistir o vídeo ao lado dos companheiros.
“Eu sempre falo que obviamente o reconhecimento da torcida, até de vocês da imprensa, é muito bom, mas o reconhecimento interno, da pessoas que convivem com você o dia a dia, te mostra realmente a marca que você deixa. Foi algo acho que da assessoria junto com a comissão técnica, muito emocionante para mim, porque eles sabem que essa coisa mexe comigo”, afirmou, antes de provocar gargalhadas.
“Não vejo na frente deles. Eu disse ‘vocês nunca vão ver meu olho cheio de lágrimas. Na frente de vocês, nunca’. Mas foi muito emocionante… Impossível (assistir ao lado do grupo), eu achava que tinha condições, mas não tenho. A vida me presenteou com esses momentos, uma sensação que vai ficar na minha alma para sempre”, brincou, sem deixar de ser contundente.
Diego Lugano passou por Libertad Canelones, Nacional e Plaza Colônia antes de chegar aos São Paulo em 2003, com apenas 21 anos. Ficou no clube até 2006 depois de conquistar um Paulista, um Brasileiro, uma Libertadores e um Mundial. Seu retorno aconteceu em 2016, depois de passagens por Fenerbahçe (TUR), PSG (FRA), Málaga (ESP), West Bromwich (ING), BK Hacken (SUE) e Cerro Porteño (PAR).
Ao todo, foram 213 partidas pelo Tricolor Paulista. Lugano participou de 110 vitórias, 51 empates e 52 derrotas. Ele é o quinto estrangeiro que mais atuou pelo clube, atrás de Poy (525), Dario Pereyra (453), Pedro Rocha (393) e Forlán (243).
Gazeta Esportiva