As forças de segurança de São Paulo foram responsáveis pela morte de 191 crianças e adolescentes de até 16 anos entre 2010 e segunda-feira (27), em supostos casos de confronto – o equivalente a dois casos por mês. Segundo o levantamento da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, dez dessas mortes vitimaram crianças com menos de 14 anos.
“Esses casos já vinham acontecendo há um tempo, mas passaram a despertar nossa atenção com mais clareza após a morte do menino Ítalo, de 10 anos, na Vila Andrade”, disse o ouvidor Julio César Nascimento.
Para o ouvidor, um das causas desse número de mortes seria a sensação, por parte dos policiais, de que adolescentes infratores ficariam impunes caso fossem capturados pelos agentes após as perseguições.
Das 191 mortes, uma das vítimas tinha 11 anos; outra, 13 anos; oito delas tinham 14 anos e, no total, 47 tinham 15 anos. As demais 134 vítimas foram assassinadas aos 16 anos. No mesmo período, a Polícia Militar matou 2.788 pessoas em supostos confrontos.
Outros casos
Só na zona leste da capital, região onde um guarda-civil municipal assassinou Ítalo, de 11 anos, outros dois adolescentes foram mortos depois de serem perseguidos por policiais militares só nos últimos 20 dias.
O primeiro caso aconteceu na noite do último dia 9, uma quinta-feira. Três adolescentes – dois de 15 e um de 16 anos – teriam sido flagrados por policiais militares no Parque do Carmo. Um PM atirou na direção dos garotos, que foi atingido, não resistiu aos ferimentos e morreu. Segundo os policiais envolvidos na ação, um dos meninos teria atirado contra a viatura, mas nenhuma arma foi localizada.
Segundo informações do boletim de ocorrência, registrado no 53.º Distrito Policial (no Parque do Carmo), o delegado que recebeu o caso foi até a cena do crime e não encontrou sequer as cápsulas dos disparos feitos pelo PM. Os outros dois adolescentes envolvidos na ação, que foram detidos, não prestaram nenhuma informação aos agentes da Polícia Civil encarregados da apuração do caso.
A segunda ocorrência foi registrada na última sexta-feira (24), apenas um dia antes da morte envolvendo o guarda-civil. Um adolescente de 15 anos foi flagrado por policiais em um veículo roubado pouco antes e foi perseguido.
Momentos depois, o garoto desistiu de tentar fugir com o carro, parou o veículo e correu para um matagal na Rua Artur Franco, em Cidade Tiradentes. Segundo a Polícia, ao entrar no mato, o adolescente teria atirado contra os policiais, que revidaram e o mataram.
Um revolver calibre 38 foi apreendido, com dois cartuchos disparados. O rapaz levou um tiro na cabeça e dois no peito. Peritos fizeram exame residuográfico, que pode determinar se o garoto fez disparos com arma de fogo. As armas dos policiais foram apreendidas.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) comentou o segundo caso nesta segunda. Disse que os PMs estão afastados de suas funções e que o caso é investigado. “Os desvios, quando acontecem, são apurados com todo o rigor”, afirmou Alckmin. A Secretaria da Segurança informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa investiga ambos os casos.
Estadão