A recuperação judicial da supertele tem potencial para se tornar um superproblema. Com abrangência nacional, a Oi tem a concessão de telefonia fixa em quase todo o país, exceto São Paulo. A crise da empresa cria dúvidas quanto ao que pode acontecer com os serviços de telefonia fixa em mais da metade das cidades do país. No total, 2.980 municípios dependem exclusivamente da empresa, segundo levantamento da consultoria Teleco. Se no passado o governo mudou a legislação para permitir a expansão da operadora, agora poderá ter que solucionar o problema. A legislação prevê que, em caso de falhas operacionais, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) poderia assumir os bens da companhia para manter a prestação de serviços ou delegá-la a outra instituição.
O cenário de incerteza é compartilhado pela extensa lista de credores da tele. São mais de 13 mil, que vão da catarinense Casa de Pneus, com a qual a Oi tem uma modesta dívida de R$ 54,90, a investidores que compraram títulos da empresa no exterior a quem a operadora deve o maior montante: R$ 36 bilhões (55%) de um total de R$ 65,4 bilhões.
Além do imenso número de credores, listados em 386 páginas, chama a atenção sua abrangência geográfica. A Casa de Pneus, por exemplo, fica em Tubarão (SC). Há calçadistas na lista e até creches, como a Creche Casa da Criança Missão da Paz, em Rio Grande (RS). Não faltam grandes fornecedores como Cisco, no Rio de Janeiro, e Vale, em São Luís (MA). A pulverização dos credores e sua capilaridade geográfica fazem da recuperação judicial da Oi um caso único, na avaliação dos especialistas, e criam desafios para a tele elaborar um plano que agrade credores com perfis tão distintos.
— A pulverização dos credores cria desafios. A empresa terá que fazer um corte, decidir quem vai receber à vista e quem vai receber parcelado. Quem vai receber integralmente e quem vai ter desconto na dívida. Estabelecer limites será difícil — avalia Juliana Bumachar, do Bumachar Advogados.
IMPACTO NOS FORNECEDORES
Uma vez aprovado o pedido de recuperação, a Oi congela o pagamento de dívidas por 180 dias. A preocupação maior é entre os pequenos fornecedores. Marcelo Duarte, gerente de negócios da 3Elos Informática, prestadora de serviço no Rio, está apreensivo. A empresa tem R$ 573 mil a receber.
— Com certeza afeta (nossas operações), infelizmente. Mas, a princípio, não faremos qualquer alteração no contrato — disse Duarte, que desconhecia a regra de suspensão de pagamento dos débitos.
À Creche Casa da Criança Missão da Paz, a Oi deve R$ 6.828, referentes a uma pendência judicial de dez anos atrás, segundo a instituição. O GLOBO não conseguiu contato com a Casa de Pneus. Cisco e Vale não fizeram comentários.
O Globo