As conversas entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e caciques do PMDB, os senadores Romero Jucá (RR), Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP), revelam que a política brasileira acompanha uma “ética pervertida” e baseada no “privilégio e no menoscabo do cidadão comum”.
Essa é a opinião do professor de ética e filosofia Roberto Romano, titular da Unicamp (Universidade de Campinas, em São Paulo). Em entrevista ao UOL, o acadêmico afirmou que o sistema político no país está “atrasado pelo menos quatro séculos”.
A repercussão sobre as gravações das conversas entre os políticos, divulgadas em reportagens da “Folha de S.Paulo” publicadas na terça-feira (24) e na quarta (25), provocou a queda de Romero Jucá do cargo de ministro do Planejamento.
Além de Jucá e Renan, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) também foi gravado em conversa com Machado. Ele prometeu ao ex-presidente da Transpetro que poderia ajudá-lo a evitar que seu caso fosse transferido para a vara do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba (PR), mas “sem meter advogado no meio”.
Machado conseguiu com isso a homologação de sua delação premiada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), já que traz citações a políticos investigados na Operação Lava Jato, e será remetido à PGR (Procuradoria-Geral da República). Com base nos novos elementos, o procurador Rodrigo Janot pode, inclusive, pedir a abertura de novos inquéritos.
Romano afirma que as conversas gravadas por Machado, interlocutor dos senadores do PMDB, mostram que “a política brasileira funciona segundo os preceitos de uma ética pervertida, antirrepublicana e antidemocrática e que tende a valorizar a ação dos detentores ocasionais do poder, e não os interesses mais amplos da sociedade”.
“Quando você tem uma ética baseada no privilégio, no menoscabo do cidadão comum, sem democracia e com legisladores que fazem a lei de acordo com seus próprios interesses, só se pode esperar esse tipo de comportamento típico da razão de Estado do século 17.”
UOL