Em entrevista concedida à rede de televisão sul-americana “Telesur” e transmitida na noite desta quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff disse que se sente injustiçada por estar sofrendo um processo de impeachment sem base jurídica para afastá-la. Na entrevista, a presidente admitiu a possibilidade do processo avançar no Senado, mas anunciou que lutará para que “o golpe parlamentar” contra ela não seja consumado nos 180 dias previstos para que o mérito seja discutido.
– Acho que temos condição de reverter o processo. A luta está começando e não se esgota nesse primeiro momento. Vamos lutar durante os 180 dias para que o golpe não se concretize, período em que vão julgar o mérito. Vamos lutar para que não seja um golpe definitivo contra a democracia – disse Dilma.
Questionada pelo ex-ministro de Hugo Chávez e jornalista Ernesto Villegas se ela estava sendo vítima de tentativa de golpe, como aconteceu com o presidente venezuelano e outros presidentes de esquerda na América, Dilma disse acreditar que hoje há a substituição dos golpes militares por outro tipo de golpe, “o parlamentar”.
– Hoje em termos de geopolítica estão substituindo o golpe militar por outro tipo de golpe. Estão em marcha os golpes parlamentares. Para tirar governos eleitos pela maioria da população, pelo voto popular, a partir de mecanismos aparentemente legais. Não é só um golpe contra a democracia, mas contra o aumento da inclusão social, do desenvolvimento social – afirmou Dilma, acrescentando que esse tipo de golpe atinge os países em momento de crise econômica mundial.
O jornalista indagou se Dilma acreditava que havia a participação dos Estados Unidos no processo de impeachment brasileiro e a presidente disse que não:
– Não podemos atribuir aos Estados Unidos participação nesse processo.
Ao responder à pergunta do jornalista da Telesur se a oposição estava lutando não apenas para tirá-la do governo, mas para ver presos ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tirando-os do jogo político, Dilma disse que é muito difícil no Brasil “encarcerar alguém sem provas”, especialmente o ex-presidente Lula. E que esse processo exige que ela e se proteja junto com os movimentos sociais e sindicais e dos que defendem a democracia.
– Há uma coalizão forte de pessoas que defendem que eu não posso ser afastada sem razão. Podem criar factóides, mas me investigam de todas as maneiras há dois anos e ninguém provou nenhum desvio.
O Globo