‘A traição do Brasil”. Assim a revista britânica “The Economist” se referiu ao momento político por que passa o país em sua mais recente edição. Uma foto do Cristo Redentor de braços erguidos, segurando uma faixa em que está escrito SOS, ilustra a capa da versão da revista distribuída para a América Latina desta semana. Na reportagem, a publicação diz que a presidente Dilma Rousseff “decepcionou” o país, mas classifica como “alarmante” o fato de que as pessoas que estão trabalhando para sua saída serem “piores que ela”.
A publicação lembra que o PMDB, partido do vice Michel Temer, está comprometido no esquema de corrupção da Petrobras, assim como o PT de Dilma. E cita o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de envolvimento no esquema. A revista faz menção a adjetivos usados pelos deputados durante a votação do processo de abertura do impeachment na Câmara, no domingo passado, para se referir a Cunha, como “gangster” e “ladrão”.
Segundo a “Economist”, se Temer assumir a presidência em caso de aprovação do impeachment pelo Senado, deve trazer alívio econômico passageiro, já que “ele sabe como fazer as coisas em Brasília” e seu partido tem mais trânsito entre os empresários. Mas não será a solução, pois “a corrupção está espalhada entre muitos partidos brasileiros”. Segundo a revista, 60% dos parlamentares são acusados de crimes.
“O que é alarmante é que aqueles que estão trabalhando para a saída de Dilma são, em muitas formas, piores do que ela”, diz a “Economist”. “O fracasso não é apenas de Dilma. Toda a classe política decepcionou o país por meio de uma mistura de negligência e corrupção. Os líderes do Brasil não ganharão de volta o respeito dos cidadãos nem vão superar os problemas econômicos a não ser que façam uma limpeza geral”.
A publicação volta ao século XIX, quando o trabalho escravo era base da economia brasileira, para identificar as raízes da corrupção, e menciona a ditadura e o falho sistema eleitoral brasileiro, que permite campanhas caríssimas e protege os políticos da prestação de contas à sociedade.
Esta é a terceira vez que a “Economist” estampa em sua capa uma foto do Cristo Redentor para se referir ao Brasil. Em setembro de 2009, o Cristo apareceu decolando como um foguete — sob a manchete “O Brasil decola” — , em analogia ao crescimento econômico brasileiro em meio à crise global. Em setembro de 2013, o Cristo voltou a aparecer, desta vez caindo sem rumo, simbolizando o nó da economia e as diversas perdas sociais dele decorrentes. A machete na época foi uma indagação: “O Brasil estragou tudo?”.
Na edição desta semana, a publicação volta a tratar da “incompetência” de Dilma em seu primeiro mandato (2011-2014), o que teria levado o país a uma situação econômica “incomparavelmente pior”.
O Globo