O governo admitiu a derrota antes mesmo de terminada a votação na Câmara que define o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Às 20h, quando o placar indicava 195 votos a favor do afastamento, fontes do Palácio afirmavam que a chance de mudar o resultado era zero, segundo informou o Blog do Moreno. Às 20h35m, coom 272 votos a favor, auxiliares da presidente diziam que todos os esforços serão centrados no Senado, já que a Casa pode ser mais sensível ao mérito do impeachment, as pedaladas fiscais. Inicialmente, Dilma cogitou fazer um pronunciamento à imprensa, não em rede, condenando a decisão, mas acabou delegando a missão aos ministros Jaques Wagner (Chefia de Gabinete) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União).
O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE) reconheceu a derrota na Câmara na noite deste domingo. Ele deixou o plenário quando o placar marcava cerca de 290 votos pró-impeachment. Agradeceu os votos contrários ao afastamento de Dilma e reconheceu que a oposição, chamada de “golpista”, foi mais forte. Disse que o governo vai lutar nas ruas, no Senado e na Justiça. E afirmou que o vice-presidente Michel Temer não tem condições de governar o país.
— Os golpistas venceram na Câmara. Vamos continuar lutar na rua. Podemos reverter no Senado — disse Guimarães. — Nós perdemos porque os golpistas foram mais fortes. Reconhecemos a derrota, mas de cabeça erguida. O país vai se levantar contra esses golpistas que não tem voto e nem condições de governar o país.
Ao ser perguntado sobre os motivos da derrota, reclamou de algumas traições. Mas disse que não iria falar em nomes. Depois de falar à imprensa, admitindo a derrota, Guimarães sinalizou que o governo recorrerá à Justiça:
— A gente vira esse jogo nas ruas, na Justiça e no Senado. O comando do golpe foi articulado por Michel Temer.
Após a entrevista coletiva, Guimarães deixou a Câmara e disse que iria para o Palácio da Alvorada, “dar um abraço” em Dilma Rousseff. O líder do governo disse ainda que a “luta está apenas começando”:
— A guerra será lenta, gradual, segura e prolongada.
Um auxiliar de Dilma lembrou que governadores como Geraldo Alckmin (PSDB-SP) também praticaram as mesmas manobras fiscais em suas gestões:
— Não vamos desmobilizar. Agora é todo o esforço no Senado. O Senado é a casa da federação, ali se reflete muito a posição dos governadores. E tem muitos governadores que fizeram pedaladas. Ali vai ser julgado o mérito — afirmou.
Durante a sessão, líderes do governo se desentenderam sobre chances de evitar o impeachment da presidente. Quando a oposição tinha 206 votos a favor do impeachment, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) admitiu que a oposição iria ganhar devido ao efeito manada. Ao saber da declaração, o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) afirmou que ainda está no jogo e que Orlando errara na conta.
— Esse resultado sinaliza que oposição vencerá. Deputados do PP, PR e PMDB não cumpriram sua palavra e votaram contra (o governo). Dificilmente haverá uma reversão — disse Orlando, quando o governo tinha 53 votos e 3 abstenções de um total de 262 deputados.
Orlando diz que fez uma projeção com base nos votos que ele esperava ter contra o impeachment e que mudaram de lado a partir do Paraná. No estado, segundo suas contas, pelo menos 5 parlamentares trocaram de lado, provocando um “efeito manada” que atraiu o voto de deputados que não querem estar do lado derrotado:
– Em vez de analisar o mérito, quer estar bem do lado vencedor e não pensa nas consequências desse ato. Infelizmente esse é o parlamento brasileiro, presidido por alguém como Eduardo Cunha.
O Globo