A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) disse nesta sexta-feira (5), véspera do Carnaval, que detectou a presença de zika vírus com potencial de infecção por saliva e urina, mas a transmissão ainda não foi confirmada.
A evidência, baseada na análise de amostras de dois pacientes com sintomas compatíveis com a doença, sugere a necessidade de investigar a relevância destas vias alternativas de transmissão viral, de acordo com a entidade, vinculada ao Ministério da Saúde e referência no assunto.
Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz
A evidência, que é inédita, pode ou não ser relevante. A forma de transmissão da zika até hoje comprovada é pela picada do mosquito Aedes aegypti.
Nos EUA, também está em análise uma suspeita de transmissão sexual da doença. Com a possibilidade de contágio pela saliva, a zika se assemelharia a doenças como mononucleose, a chamada de “doença do beijo”, herpes e candidíase (sapinho).
Segundo os pesquisadores brasileiros, parte das amostras de saliva foram colocadas em contato com células utilizadas para verificar atividade viral de vírus como os da zika, dengue e febre amarela (pertencentes à família dos flavivírus). Na experiência, essas células foram destruídas após o contato, “o que comprova a atividade viral”, concluí a pesquisa.
Hoje, o principal problema investigado são as crianças que nascem com 32 cm ou menos de perímetro cefálico, e que são notificadas como suspeita de microcefalia. Até o início da semana, eram 3.670 casos de suspeita investigados, além de 404 bebês com microcefalia ou síndromes neurológicas confirmadas.
Segundo o professor de infectologia da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Marcos Boulos, há outros tipos de lesões neurológicas –normalmente oculares e auditivas– que acometem crianças que nascem com a cabeça de tamanho considerado normal.
“Existem vários tipos de problemas que não estão associados obrigatoriamente à microcefalia”, diz. “Você pode falar que é uma síndrome específica da zika que dá microcefalia. Mas a síndrome da zika pode dar muitas coisas, entre elas a microcefalia, que pode estar dentro de uma síndrome maior”, completa.
O problema já é de conhecimento do Ministério da Saúde, que informou investigar “todos os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central informados pelos Estados e a possível relação com o vírus zika e outras infecções congênitas.”
UOL