O julgamento final do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as pedaladas fiscais do governo Dilma Rousseff, cometidas em 2014, pode ficar só para o próximo ano. Isso porque o calendário do órgão dificulta a conclusão dos trabalhos antes do recesso de fim de ano – para alívio do Planalto. A corte ainda precisa analisar um recurso do governo e a atribuição de responsabilidade a dezessete autoridades envolvidas no caso.
Reprovado por unanimidade pelos ministros do TCU em outubro pela prática de atrasar propositalmente o repasse de recursos a bancos públicos no ano passado, o governo entrou com um recurso para suspender os efeitos administrativos do julgamento e negociar uma forma de pagamento dessas dívidas atrasadas com as instituições financeiras. A reprovação das contas também depende de análise do Congresso, que dá a palavra final sobre o caso e também deixará qualquer definição para 2016 em diante.
No TCU, os trabalhos serão feitos em duas partes e a análise do recurso do governo deve ocorrer antes do julgamento das autoridades. O relator do processo, em que o Planalto contesta a reprovação das contas, ministro Vital do Rêgo, está desde terça-feira em viagem oficial à Austrália e somente retornará à corte de contas para as duas últimas sessões do ano, previstas para os dias 2 e 9 de dezembro.
Mais importante que essa definição será a segunda parte do julgamento: a atribuição de responsabilidade das dezessete autoridades do governo envolvidas no processo, entre elas o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa; e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini; do BNDES, Luciano Coutinho; e da Petrobras, Aldemir Bendine, que no ano passado era presidente do Banco do Brasil.
Todos podem ser inabilitados para atuar na administração federal, caso o TCU siga a pena máxima, o que exigiria a demissão de todos. Essa questão mais dramática, no entanto, só poderá ocorrer após a análise do mérito das pedaladas, que faz parte do recurso do governo a ser analisado por Vital do Rêgo.
A análise do recurso determinará a forma como o governo vai pagar as pedaladas de 2014 – à vista ou em parcelas. Em mensagem ao Congresso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, informou que a conta total devida aos bancos públicos e ao FGTS ao final de 2015 será de 57 bilhões de reais. A Secretaria de Recursos (Serur) do TCU entende que o Tesouro Nacional deve encaminhar uma proposta de pagamento dessas pedaladas, um posicionamento que agrada o governo.
Ainda falta a manifestação do Ministério Público de Contas, que está pendente, para que Vital apresente seu voto. Ele pode ou não seguir os auditores da Serur ou o Ministério Público em voto que também será apreciado pelos demais ministros. O relator aguarda a manifestação do procurador responsável pelo caso, Julio Marcelo de Oliveira. Mesmo que Oliveira conclua seu parecer, o julgamento só ocorrerá após o retorno do ministro da viagem à Austrália.
Respiro – O fato de haver apenas duas sessões do tribunal após a volta de Vital ao Brasil anima o governo, que aposta num esfriamento da turbulência política e da pressão pelo impeachment de Dilma. O principal pedido de afastamento da presidente no Congresso, feito pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., está sustentado justamente nas pedaladas, sob alegação de se tratarem de crime de responsabilidade. O recesso do TCU tomará a metade final de dezembro e todo o mês de janeiro.
Após o julgamento do recurso, o tribunal poderá colocar em pauta o julgamento das autoridades, cujo relator é o ministro José Múcio. Neste caso, Múcio vai deliberar sobre a posição do Ministério Público de Contas, que pode pedir diferentes condenações para as dezessete autoridades. Além dos atuais ministros e presidentes de instituições públicas, estão envolvidos no caso o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin.