Apoiado em uma das mesas de seu ateliê, Emanoel Araújo recebeu a reportagem do site O Beijo em seu ateliê, no Bexiga. Com um tom firme, de uma delicadeza difícil de se descrever, o artista, também fundador e diretor do Museu Afro Brasil, falou sobre o racismo no Brasil e a percepção ainda estereotipada que temos do continente africano. Confira abaixo trechos da conversa.
O Beijo — Em 1988, você foi responsável, pela organização do livro “A mão afro-brasileira”, o primeiro compilado de artistas afro-descendentes no Brasil. Depois de quase 30 anos, você acha que avançou o reconhecimento do artista negro no circuito artístico e na sociedade?
Emanoel Araújo: Essa questão é complicada. Apesar do livro ter feito muito sucesso, uma publicação que tem 7 mil exemplares não consegue circular satisfatoriamente pelo Brasil. Então, ele existe como documento, nas bibliotecas, nas universidades, nas teses de doutorado. Para ter mais alcance, tinha que ter tido 200 mil, 2 milhões de exemplares. Mas essa é a nossa função e a gente espera que as pessoas se conscientizem.
O Beijo – Hoje, a gente vive um acirramento da questão racial no país. Como você vê este cenário?
E.A.: As reclamações que surgem com as redes sociais já existiam, mas estavam embutidas, anestesiadas. O que acontece agora é que elas estão vindo à tona. Estão expondo a ferida. Mostrando que o Brasil é um país com muito preconceito e poucos avanços sociais e raciais.
O Beijo – Você citar áreas críticas onde se vê este preconceito?
E.A.: O preconceito atinge todo mundo. A mídia, por exemplo. Quem vê televisão no Brasil, pensa que está na Suécia. Tem loiras verdadeiras, loiras falsas. Negro não aparece. Quando é visto, é em propaganda de supermercado, o que mostra que é um país socialmente feito para brancos.
O Beijo — Em 2015, o Museu Afro Brasil fez uma grande exposição de arte contemporânea africana (África Africans). Qual a importância dela para superar o preconceito?
A gente fez esta mostra para celebrar o aniversário de 11 anos do museu. O que a gente queria era mostrar uma faceta desconhecida da África no Brasil. Aqui, a arte que se faz no continente africano ainda fica no lugar folclórico e é vista de forma negativa. Com a população de negros que temos, não deveria ser assim. Deveria ter um museu de arte africana, assim, como um museu de arte indígena.
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