Não é nada novo o assédio dos esportes radicais ao Comitê Olímpico Internacional. Em 1995, o argentino Fernando Aguerre, presidente da Associação Internacional de Surfe (ISA), foi até Lausanne, na Suíça, para presentear o então septuagenário presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, com uma prancha. Vinte anos depois, a entidade cedeu à investida. Numa tentativa de rejuvenescer a audiência dos Jogos Olímpicos, deixou o surfe, o skate e a escalada a poucos passos de ingressar no programa das Olimpíadas de 2020, em Tóquio. As três modalidades radicais foram chancelados na semana passada, bem como as apoiadas entusiasticamente pelos japoneses, como o caratê e beisebol-softbol.
O presidente do COI, Thomas Bach, terá de referendar essa lista antes de ela ser submetida à plenária da entidade, em agosto do ano que vem, no Rio. São consideráveis as chances de que todas as modalidades entrem na programação de 2020 – se vão permanecer nas edições seguintes, é outra questão.
Boa parte dos dirigentes envolvidos com essas modalidades já comemora. “Esse é um pleito antigo, que a ISA conduz há muito tempo. Vários segmentos desdenhavam as nossas chances. Desde o seu primeiro mandato, o Aguerre luta por isso, indo a todas as reuniões do COI”, diz o presidente da Confederação Brasileira de Surfe, Adalvo Argolo.
Nem todo o meio dos esportes radicais, no entanto, está seduzido pela perspectiva de receber a chancela dos aneis olímpicos e tudo o que eles representam, para o bem e para o mal. “Acho legal essa possibilidade. Eu, inclusive, faço parte do comitê do skate que dialoga com o COI. Mas o COI terá de respeitar nossas regras e nossos valores. Se eles nos fizerem várias exigências ou tentarem nos uniformizar, perderíamos a nossa identidade. Caso isso aconteça, serei contrário à inclusão do skate na Olimpíada”, diz Sandro Dias, o Mineirinho, um dos principais nomes internacionais do esporte. “Acho que a Olimpíada precisa mais do skate do que o skate precisa da Olimpíada.”
Se Mineirinho teme alterações no skate, elas são quase certas no surfe. O COI exige igualdade de condições de disputa, e não permitiria que a imponderabilidade representada pelo regime de formação de ondas no mar influísse numa disputa de medalhas. Dessa forma, o caminho para a inclusão do surfe na Olimpíada passa pelo seu encapsulamento numa arena indoor, com ondas artificiais. O COI estaria, assim, praticamente criando um outro esporte.
“Acho isso positivo. As arenas indoor induziriam um crescimento do surfe em lugares aos quais ele não tem condições de chegar, como as cidades que não são banhadas por oceanos, por exemplo”, opina Argolo.
Outro Mineirinho, o do surfe, Adriano de Souza, se empolga com a chance de a modalidade se tornar olímpica. “Acho que seria legal para todo mundo. Para pequenas ilhas cujo esporte principal é o surfe, para os próprios atletas, que terão mais uma chance de representar seus países, e para os Jogos, que terão mais estrelas participando, atraindo mais a atenção do público. Imagina uma disputa de medalha de ouro com a geração que temos hoje?”, diz o vice-líder na corrida pelo título da WSL (Liga Mundial de Surfe).
O Mineirinho do surfe não deixa de ter sua razão. A ISA apresentou ao COI pesquisas que apontam a existência de 35 milhões de surfistas no mundo, 60% deles com menos de 20 anos de idade. Já o skate calcula que 50 milhões tentam se equilibrar sobre as pranchas com rodinhas, com maioria de menores de 18 anos entre eles. Os velhos senhores do COI tentam também equilibrar as demandas por Jogos menos gigantescos e mais baratos, consubstanciados no projeto chamado Agenda 2020, e a meta de tornar o evento mais relevante para as futuras gerações.
Por iG Esportes