Além de um fracasso histórico para o PT, a derrota de Fernando Haddad também significou a pá de cal no projeto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de espalhar seus “postes” pelo Brasil. A estratégia de colocar candidatos novatos em eleições para disputar cargos importantes nunca foi uma unanimidade dentro do partido e agora, diante da queda do prefeito paulistano e do impeachment de Dilma Rousseff, fica definitivamente enterrada.
Na eleição municipal de 2012, empolgado com o desempenho dos petistas e com a boa popularidade de Dilma (na época, seu governo tinha 62% de aprovação), Lula resolveu zombar do apelido usado para se referir aos candidatos impostos por ele ao partido.
— Quando lancei o Haddad, disseram que estava lançando um poste. Quando lancei a Dilma, disseram que estava lançando um poste. Digo que de poste em poste vamos iluminar o Brasil inteiro — disse Lula à época, em comício em Fortaleza.
Nos quatro anos seguintes, o ex-presidente viu os seus “postes” se apagarem um a um. O primeiro foi o ex-ministro Alexandre Padilha, escolhido por Lula para disputar o governo de São Paulo em 2014. Já afetado pelo desgaste da Operação Lava-Jato, Padilha nunca conseguiu fazer a sua candidatura decolar e acabou em terceiro na eleição, no pior desempenho de um petista no estado desde 1998.
Neste ano, o mais importante dos “postes”, Dilma, foi abatido pela impeachment. Para alguns petistas, a alta popularidade com que deixou o Planalto fez com que Lula se equivocasse ao definir os perfil dos seus candidatos. As escolhas fariam parte de um desejo do ex-presidente de manter um controle total sobre o partido.
— Lula bloqueou o surgimento de lideranças autênticas no PT. Queria que todo mundo ficasse vinculado a ele. Por isso, só escolheu os seus ex-ministros para disputar esses cargos mais importantes — acusa um parlamentar.
Um cacique do PT de São Paulo avalia que a semelhança dos perfis de Haddad e Dilma explicam as derrocadas dos dois.
— São dois tecnocratas que têm dificuldade de lidar com o mundo da política.
O Globo