Jornalista aponta “espírito de revanche” na suspensão da extradição de traficante
O jornalista Merval Pereira, comentarista da GloboNews e colunista de O Globo, teceu duras críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por sua recente decisão de suspender a extradição de um cidadão búlgaro acusado de tráfico de drogas. A medida foi tomada por Moraes após a Espanha recusar a extradição do jornalista Oswaldo Eustáquio, alegando motivação política no pedido do governo brasileiro.
Durante participação no programa Estúdio I, nesta quarta-feira (16), Merval classificou a decisão como um “absurdo”:
“Eu acho inacreditável que um búlgaro, que foi apanhado com mais 30 malas de cocaína, seja liberado porque Alexandre de Moraes quer trazer de volta um bolsonarista”, declarou o jornalista.
Crítica ao uso político do Judiciário
Merval destacou ainda que o caso expõe um problema mais profundo na forma como a Justiça brasileira tem tratado críticas políticas e manifestações nas redes sociais:
“O fato de a Espanha ter dito oficialmente que lá esses crimes não são crimes é também um sinal de alerta”, afirmou.
Para ele, esse alerta diz respeito à forma como o Judiciário brasileiro lida com opositores políticos, sugerindo que o combate à desinformação tem ultrapassado os limites legais e invadido o campo da liberdade de expressão:
“A gente precisa também pensar um pouco sobre isso. Sobre a visão do que é crime quando se trata de uma oposição política”, completou.
Merval: “Acho inacreditável que um búlgaro que foi apanhado com 52 malas de cocaína seja liberado porque o Alexandre de Moraes quer trazer de volta um bolsonarista que está lá (na Espanha)
Já alguém vai dizer que essa fala do merval tá incomodando o STF. pic.twitter.com/dee4Ice0eW
— Freu Rodrigues (@freu_rodrigues) April 16, 2025
Coluna reforça crítica e acusa Moraes de agir por impulso
Em sua coluna publicada no jornal O Globo nesta sexta-feira (17), Merval voltou ao tema e endureceu ainda mais o tom. Disse que o argumento da reciprocidade, utilizado por Moraes para suspender a extradição, é “inexistente” e que o ministro tem agido movido por emoções:
“Moraes decide mais com o fígado que com a legislação pertinente”, escreveu.
O jornalista classificou como “esdrúxula” a decisão de enviar o traficante búlgaro para prisão domiciliar, com o uso de tornozeleira eletrônica, e sugeriu que a medida teve caráter de revanche:
“Contrariado com o fato de a Justiça espanhola não considerar crime o que ele considera, simplesmente mandou o traficante para casa com uma tornozeleira eletrônica. Ora, se uma decisão dessas não é eivada de espírito de revanche, não sei o que mais é”, concluiu.