Apontado pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) como o verdadeiro padrinho político do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso na operação Lava-Jato, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), manteve Delcídio na presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a despeito da vontade da bancada do PT de substituí-lo pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Delcídio decidiu nesta segunda-feira adiar a sua volta ao trabalho no Congresso Nacional. Ele avalia com sua equipe e advogados quais são as condições que tem para o exercício do mandato com base na decisão judicial que o libertou.
O ofício elaborado pela bancada petista comunicando a destituição de Delcídio da comissão foi enviado a Renan na última quinta-feira, um dia antes de o senador petista ter deixado a prisão e ido para o regime de recolhimento domiciliar. A intenção da bancada do PT era formalizar nesta terça-feira a eleição de Gleisi para o cargo.
O presidente do Senado, porém, não proferiu decisão sobre o caso e, portanto, o pedido da bancada do PT não foi comunicado à CAE. Como consequência, a reunião marcada para ocorrer nesta terça-feira para eleger Gleisi a nova presidente do colegiado foi adiada.
Segundo interlocutores de Renan, a ação dele foi uma “medida de cautela” para evitar um embate maior no Senado sobre o caso. Ele pretende primeiro conversar com integrantes da bancada do PT e com o próprio Delcídio antes de proceder.
– Não dá para substituir um colega a toque de caixa. É uma medida de cautela. Uma coisa é quando Delcídio estava preso, mas agora ele voltou e é preciso conversar antes. Tem que ter paciência – afirma um interlocutor de Renan.
O senador Raimundo Lira (PMDB-PB), que assumiu interinamente a presidência da CAE, foi avisado na quinta-feira passada do ofício do PT e marcou a nova eleição para esta terça. Como a comunicação não chegou à comissão, ele decidiu cancelar a sessão, que terá apenas uma reunião deliberativa.
Nos bastidores, o PT pressiona para que Delcídio abra mão de retomar o cargo. Neste fim de semana, a cúpula do partido avisou ao senador que, caso crie constrangimentos ao partido, passará por processo público de expulsão. Auxiliares de Delcídio sinalizaram a senadores do PT que ele não pretende criar problemas e que pode apresentar sua renúncia à presidência da CAE.
Em março de 2014, houve troca de farpas entre Delcídio e Renan a respeito do apadrinhamento de Cerveró depois que a presidente Dilma Rousseff responsabilizou o ex-diretor da Petrobras por produzir um parecer “falho” que teria baseado o seu aval à compra da refinaria de Pasadena, que provocou prejuízo milionário à estatal.
Na ocasião, Renan atribuiu a indicação de Cerveró a Delcídio:
– O Delcídio não deve ter nenhuma preocupação com o fato de ele ter indicado o Cerveró, porque certamente ele não indicou o Cerveró para roubar a Petrobras (…) Ele ter ficado na Petrobras é imperdoável. Ele (Delcídio) tem que pedir a saída do Cerveró – ironizou Renan.
Delcídio respondeu o presidente do Senado, afirmando que coube a Renan avalizar o nome de Cerveró para o cargo:
– O PMDB participou, era representado na diretoria internacional pelo Nestor Cerveró, isso é fato sabido. O Renan tinha toda ascendência sobre o Cerveró. O senador Renan está um pouco nervoso, mas é um homem pragmático. Sabe que é hora de tirar o pé do acelerador porque tinha ascendência sobre a diretoria internacional da Petrobras – disse Delcídio.
O Globo