O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), começou o ano de 2016 com uma postura menos beligerante. Se até o fim do ano passado, tinha o hábito de conceder várias entrevistas ao dia, com ataques em série, desde que desembarcou em Brasília, anteontem, passou a se esquivar da imprensa, tentando ficar longe dos holofotes.
O “novo Cunha”, mais discreto e comedido, de respostas curtas e evasivas, foi talhado pela banca de advogados que cuida de sua defesa no Supremo Tribunal Federal (STF). Eles orientaram Cunha a ficar em silêncio durante o recesso parlamentar para não confrontar os ministros da Corte, que vão julgar, a partir de fevereiro, o pedido de afastamento do peemedebista do cargo feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
No pedido, feito em meados de dezembro, Janot acusa Cunha de criar um “balcão de negócios” na Câmara, “vender” atos legislativos e “tumultuar” a elaboração de leis, além de agir para proteger uma “organização criminosa”. Há um temor real de que Cunha seja afastado da presidência e do cargo, por isso a orientação é silêncio total.
— A estratégia é ficar calado. Os advogados pediram que ele fique em silêncio para não confrontar os ministros. Isso dura enquanto ele aguentar, quanto mais tempo, melhor — disse ao GLOBO um aliado de Cunha.
Ontem, depois de avisar, pelo segundo dia consecutivo, que não daria entrevistas, Cunha acabou falando rapidamente com jornalistas, enquanto caminhava até o carro, mas deu respostas genéricas.
— É ficar calado para não arranjar mais conflito. Os advogados estão com medo de ele perder nessa história do afastamento. Por isso, estão pedindo para ele ficar quieto, porque como é uma ação frágil, acham que ele pode perder no conflito — completou o parlamentar aliado.
Ao longo do tempo à frente da presidência, Cunha já fez diversas críticas ao STF. Na episódio mais recente, Cunha pediu um encontro com o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, para tirar dúvidas sobre o rito do impeachment. O ministro aceitou recebê-lo, mas, para evitar constrangimentos, abriu o encontro para a imprensa, atitude pouco usual nas audiências da Corte.
O Globo