Milhares de agricultores de diversos países da Europa promoveram, nesta quinta-feira (18.dez.2025), uma grande mobilização em Bruxelas, capital da Bélgica, para protestar contra as diretrizes agrícolas da União Europeia e a possível conclusão de um acordo comercial entre o bloco e o Mercosul. A manifestação ganhou grandes proporções e paralisou importantes vias da cidade, com o uso de centenas de tratores para bloquear ruas e acessos estratégicos.
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Os manifestantes se concentraram principalmente nas imediações do Parlamento Europeu e do Edifício Europa, onde funciona o Conselho Europeu. A escolha dos locais teve caráter simbólico, já que líderes europeus se reuniam para discutir políticas econômicas e comerciais. De acordo com o jornal Politico, o ato é considerado o maior protesto de agricultores no continente desde a década de 1990, tanto pelo número de participantes quanto pelo impacto político gerado.
Ao longo do dia, o protesto teve momentos de forte tensão. Pneus foram incendiados e barricadas improvisadas surgiram nas ruas próximas às instituições europeias. Em alguns pontos, houve confronto direto entre manifestantes e a polícia belga. As forças de segurança utilizaram gás lacrimogêneo e canhões de água para conter os agricultores e dispersar grupos mais exaltados. Apesar do cenário de conflito, não houve registro oficial de feridos graves.
Os agricultores afirmam que as políticas atuais da União Europeia estão prejudicando seriamente o setor. Entre as principais reclamações estão o aumento dos custos de produção, a redução de subsídios, a pressão por metas ambientais rígidas e a burocracia considerada excessiva. Segundo os manifestantes, essas medidas tornam a atividade agrícola cada vez menos sustentável financeiramente, especialmente para pequenos e médios produtores.
Outro ponto central do protesto foi a oposição ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Os agricultores temem que a abertura do mercado permita a entrada de produtos agrícolas sul-americanos a preços mais baixos, como carnes e grãos, o que aumentaria a concorrência e reduziria a competitividade dos produtores europeus. Eles também alegam que os padrões ambientais e trabalhistas exigidos fora da Europa são menos rigorosos.
Para os manifestantes, o acordo ameaça diretamente a sobrevivência do setor agrícola tradicional no continente. Lideranças do movimento defendem que a União Europeia priorize a produção interna e adote políticas de proteção aos agricultores locais, em vez de ampliar acordos comerciais que, segundo eles, beneficiam grandes grupos econômicos em detrimento do produtor rural.
A mobilização provocou grandes transtornos na capital belga. O trânsito ficou comprometido em várias regiões, e autoridades recomendaram que a população evitasse o centro da cidade. O funcionamento de prédios públicos e instituições europeias foi afetado, com reuniões adiadas ou adaptadas devido às dificuldades de acesso.
A Comissão Europeia afirmou acompanhar de perto a situação e reconheceu a insatisfação do setor agrícola. Representantes do bloco reforçaram que as políticas adotadas buscam equilibrar sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e competitividade econômica, mas admitiram a necessidade de intensificar o diálogo com os agricultores.
O protesto em Bruxelas se soma a uma série de manifestações semelhantes realizadas nos últimos meses em países como França, Alemanha, Espanha e Itália. Em toda a Europa, produtores rurais têm demonstrado crescente insatisfação com as decisões tomadas em Bruxelas.
A mobilização desta quinta-feira deixou um recado claro aos líderes europeus: sem mudanças nas políticas agrícolas e garantias sobre os impactos do acordo com o Mercosul, os agricultores prometem manter a pressão e ampliar os protestos nos próximos meses.