O ex-presidente Jair Bolsonaro participou, na tarde deste sábado, de uma motociata em Brasília. Mesmo sob medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal, ele compareceu ao ato, que contou com apoio do PL, partido ao qual é filiado. No local da concentração, manifestantes seguravam cartazes de apoio ao ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Bolsonaro chegou ao evento em um carro, devido a restrições médicas — ele passou por uma cirurgia em abril e, segundo aliados, uma eventual queda representaria risco à sua saúde. Durante a passagem pela motociata, ficou pouco tempo no local, tirou fotos com apoiadores, foi erguido nos ombros por militantes e não concedeu entrevistas à imprensa.
A presença de Bolsonaro reacende discussões sobre o descumprimento das medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. O ex-presidente está proibido de utilizar redes sociais, inclusive por meio de terceiros, o que inclui qualquer participação em postagens ou transmissões ao vivo. Na semana passada, quando exibiu publicamente a tornozeleira eletrônica durante uma visita ao Congresso, Moraes determinou que a defesa explicasse o episódio, sinalizando o risco de prisão caso as regras sejam burladas novamente.
A motociata acontece em uma semana decisiva para o bolsonarismo. O evento integrou uma mobilização maior em curso nas capitais e cidades-polo do país, com o objetivo de pressionar o Congresso a aprovar um projeto de anistia que possa beneficiar Bolsonaro. Os protestos estão sendo organizados para este domingo, véspera do fim do recesso parlamentar, e têm como alvo direto o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Nenhum dos dois, até agora, demonstrou apoio à proposta de anistia.
A tensão aumentou após declarações do deputado Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos. Ele afirmou que atuará para aplicar sanções contra Motta e Alcolumbre, caso o processo criminal contra seu pai não seja arquivado. As ameaças reforçaram o clima de instabilidade entre lideranças da oposição e os presidentes das casas legislativas.
A crise se intensifica num momento em que a popularidade do bolsonarismo enfrenta desgaste. O deputado Eduardo tem sido associado ao “tarifaço” de Donald Trump, que impôs medidas econômicas que também afetam o Brasil. A ala mais radical do movimento tem sido criticada até por seus próprios apoiadores, acusada de incoerência e de não representar os interesses nacionais. Diante disso, a mobilização popular surge como estratégia para recuperar apoio.
A motociata deste sábado teve como um de seus principais objetivos estimular a adesão aos atos de domingo. Deputados aliados ao ex-presidente já vêm promovendo buzinaços em diversas cidades como forma de convocação. Em meio ao evento em Brasília, um grupo de apoiadores chamava atenção com cartazes em defesa de Donald Trump.
Um dos manifestantes, Anderson Farias, 67 anos, publicitário, exibiu um cartaz com os nomes de seus dois políticos favoritos: “Bolsotrump” e “Trumponaro”, junção dos nomes de Bolsonaro e Trump. Segundo ele, o tarifaço de Trump, na verdade, estaria “ajudando o Brasil a se livrar da dupla comunista Alexandre de Moraes e Lula”, este último, segundo Anderson, semelhante fisicamente ao presidente dos EUA. O cartaz gerou curiosidade e atraiu dezenas de apoiadores, que fizeram questão de tirar fotos ao lado dele.