A paralisação das reuniões das comissões permanentes na Câmara dos Deputados, determinada pelo presidente da Casa, Hugo Mota, transformou o parlamentar em alvo direto da ala conservadora do Congresso. O argumento apresentado por Mota — de que as obras de reforma e manutenção no prédio impediriam a realização dos trabalhos — não convenceu os deputados de oposição, que veem na decisão uma tentativa de restringir o debate e esvaziar articulações políticas durante o recesso.
Diante da proibição, deputados contrários à medida decidiram reorganizar suas estratégias fora do ambiente formal do Legislativo. Eles estruturaram três frentes principais: uma dedicada a monitorar e priorizar projetos legislativos, outra focada em comunicação e mobilização digital e uma terceira voltada a promover atos públicos em diversas cidades. A meta é levar as demandas diretamente ao eleitorado para mostrar insatisfação com o que chamam de “democracia relativa” em vigor.
Mesmo com o clima de obras nos corredores da Câmara — cheiro de tinta, barulho de martelos e andaimes espalhados — parlamentares lembram que a reforma não impede que o Congresso funcione. Para eles, a justificativa oficial é frágil, ainda mais em um momento em que temas sensíveis como o “PL da anistia” estão parados na fila de votação. O projeto visa conceder perdão a pessoas presas pelos atos de 8 de janeiro e é visto pela oposição como prioridade para pacificar o cenário político.
Diante da suspensão das comissões, deputados articulam manifestações em várias partes do país. Caminhadas, buzinaços e protestos já estão sendo registrados e devem se intensificar até o dia 3 de agosto — data escolhida para uma grande mobilização nacional, às vésperas da volta dos trabalhos no Congresso. O objetivo é pressionar Hugo Mota a colocar em pauta o projeto de anistia e outras propostas que buscam limitar o alcance de decisões do STF.
Para lideranças como Marcel Van Hattem (Novo), a atitude de Mota evidencia um desrespeito à representatividade do Parlamento. O deputado aponta que o presidente da Câmara deveria agir como mediador de todos os deputados, mas, na prática, estaria dificultando o trabalho de quem faz oposição ao governo. Van Hattem classifica o ato como grave e acredita que o bloqueio das comissões faz parte de uma estratégia maior de controle.
Nos bastidores, muitos parlamentares destacam que o requerimento de urgência para levar o projeto de anistia diretamente ao plenário já conta com o apoio mínimo exigido. Hugo Mota, porém, ainda não sinalizou quando ou se pretende cumprir a promessa de colocar o tema em votação, alimentando desconfiança dentro de sua própria base de apoio.
Enquanto isso, senadores de diferentes partidos organizam uma viagem oficial aos Estados Unidos na tentativa de negociar com interlocutores da Casa Branca para contornar os efeitos de tarifas impostas recentemente. Mas há descrença entre deputados, que consideram improvável que uma missão diplomática resolva questões que dependem, na visão deles, da pressão popular dentro do Brasil.
Para a ala conservadora, a resposta ao impasse passa pela mobilização de sua base eleitoral. A aposta é mostrar força nas ruas para aumentar o custo político de manter projetos como a anistia fora da pauta. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, que está nos EUA, também reforça o coro de que a única saída é o povo pressionar diretamente.
Em meio a reformas estruturais e um Congresso ainda esvaziado pelo recesso, o cenário é de tensão crescente. Hugo Mota, que conquistou apoio para assumir a presidência da Câmara com promessas de diálogo, agora vê parte desse respaldo ameaçado. Ao que tudo indica, o retorno das sessões plenárias em agosto será marcado por embates acalorados — e pelas ruas, o recado da oposição é claro: não há disposição para recuar.
Fonte: pensandodireita.com