O clima político em Brasília voltou a esquentar após a declaração do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do União Brasil do Amapá. O senador afirmou que, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sancionar o projeto de lei que amplia o número de deputados federais, ele mesmo fará a promulgação. A fala de Alcolumbre deixa evidente que a relação entre o Congresso e o Palácio do Planalto está cada vez mais desgastada, aprofundando o cenário de tensão entre os Poderes.
O projeto, já aprovado pelo Congresso, propõe aumentar o total de cadeiras na Câmara dos Deputados. A justificativa é que o crescimento populacional e as mudanças na distribuição demográfica do país tornaram necessário atualizar o número de parlamentares para garantir uma representação mais equilibrada entre os estados. Por trás do discurso técnico, a medida também traz impactos diretos na correlação de forças políticas dentro da Câmara, alterando a distribuição de poder entre bancadas regionais e partidos.
Do lado do governo, a proposta gera cautela. Lula e sua equipe avaliam que sancionar o aumento de deputados pode ser interpretado pela sociedade como sinal de gastos extras em um momento de pressão por ajuste fiscal. Há também receio de que a medida fortaleça grupos do Congresso que, na prática, nem sempre caminham alinhados com a pauta do governo. Além disso, há o temor de reação negativa de parte da opinião pública, que vê com desconfiança qualquer mudança que implique ampliar custos com a máquina pública.
A sinalização de Alcolumbre mostra a disposição do Congresso em exercer sua autonomia e pressiona diretamente o Palácio do Planalto. Para muitos parlamentares, o recado é claro: o Legislativo não abrirá mão de decisões consideradas estratégicas, mesmo que isso acirre a disputa com o Executivo. O movimento também evidencia o peso político de Alcolumbre, que tem se consolidado como articulador influente no Senado e peça importante nas costuras entre o Legislativo e o governo.
Esse episódio faz parte de um cenário maior de atritos entre Planalto e Congresso. Parlamentares de diferentes partidos reclamam de dificuldades para avançar pautas de interesse próprio, além de questionarem atrasos na liberação de emendas parlamentares, ferramenta essencial para garantir apoio político. A tensão se soma a disputas por espaço na máquina pública, cargos estratégicos e influência sobre o Orçamento, pontos que frequentemente geram impasses entre os Poderes.
Para além da disputa política, a proposta de ampliar o número de deputados também impacta diretamente as eleições futuras. Estados que mais cresceram em população poderão ganhar mais cadeiras, alterando o equilíbrio de representatividade e obrigando partidos a recalcular estratégias regionais. Essa mudança tende a reorganizar alianças, redirecionar recursos e mexer com a força de legendas em diferentes regiões do país.
Diante desse quadro, o governo precisará decidir se sanciona o projeto, tentando conter a crise com o Congresso, ou se mantém o veto, correndo o risco de ter Alcolumbre assumindo o protagonismo ao promulgar a medida. Independentemente da decisão, o episódio confirma que o relacionamento entre Executivo e Legislativo seguirá marcado por disputas de poder e por embates que podem influenciar diretamente os rumos do país nos próximos anos.
Fonte: pensandodireita.com