“Terra à vista”, do grumete da nau capitânia de Cabral, naquela manhã fatídica à vista do Monte Paschoal
“O Brasil é sério, embora um pouco surrealista”, Jorge Amado
Alguns milhões de cariocas e de turistas celebrarão, neste sábado. em Copacabana Lady Gaga em show gratuito, sabe lá por quem patrocinado. Poderia dizer-se de uma catarse coletiva para descarrego da má sorte com os seus prefeitos e governadores, desde Estácio de Sá. Ou pelo cansaço de serem por tanto tempo — brasileiros.
Exauridos por tanta desdita e de vergonha retida por preguiça, fraqueza ou medo, com a seleção em vermelho (literalmente) e uma espiral semântica que ninguém consegue conter — parece natural que Lady Gaga traga aos cariocas alento para os próximos rounds dessa campanha memorável e patriótica pelo Brasil.
Em “Zorba, o Grego”, filme magnífico de Antony Quinn e Irene Papas, sob a direção de Cacoyannis, o Pireu era cenário para uma comunhão de tristezas cidadãs. Aos domingos, a praia fazia-se compensação merecida pelos dissabores da semana inteira.
O carioca cura a ressaca existencial desde sexta-feira, em Copacabana ou Ipanema. Larga as vãs preocupações e encara o chope e o Fla x Flu. Mas, no domingo, fecha com chave-de-ouro as pajelanças semanais e volta ao jeitinho brasileiro de sobrevivência.
Como dar continuidade a reflexões continuadas e corajosas, nas verbalizações que são a paixão nacional? A discussão palavrosa, a dialética do “disse-não-disse” na qual o que menos importa é a controvérsia sobre o assunto, mas a desmoralização do adversário? Não é assim que os brasileiros tratam questões relevantes, do futebol, ao mais recente embargo interlocutório de um turma solitária da Alta Corte? Da “live” presidencial às brigas de plenário? Do comedimento da mídia sobre temas controvertidos?
Pois assim escapamos das revoluções e das suas trágicas e sangrentas sequelas. Ficamos com os “putchs”, menos perigosos, as intentonas, os “pronunciamentos”, a teorização dos intelectuais, os golpes de Estado, a deposição dos governantes de quando em vez, e as prisões domiciliares de caráter educativo. Salvo o ato criminoso venha a realizar-se em manifestações coletivas, armadas de artefatos de toucador contra o patrimônio público.
* Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi diretor da Imprensa Universitária da UFC. Foi durante sua gestão que a Universidade instalou a Rádio Universitária FM.
Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará em 1987 e 1988, Secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação entre 1991 e 1992. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha.
Fonte: cesarwagner.com