Você ainda tem dúvida de que Brasília é uma cidade única? Olhe para o céu.
A inauguração de Brasília aconteceu no dia 21 de abril de 1960, mas a cidade foi concebida muito antes da coragem e do empreendedorismo do presidente Juscelino Kubitschek, que colocou um ponto final no país continental que parecia sentir saudades dos navios negreiros. É indiscutível afirmar que JK redescobriu o Brasil com a transferência na nova capital para o Planalto Central.
Embora tivesse sido pensada ainda no período colonial, a ideia da transferência da capital do Brasil surgiu, em 1823, com José Bonifácio de Andrade e Silva. Mas foi em 1891, com a nossa primeira Constituição Federal, que surgia o marco legal que estabeleceria a transferência da capital federal para o centro do país.
Em 1892, foi criada a Missão Cruls, uma expedição que tinha o objetivo de traçar de uma forma mais detalhada todo o perfil da região que viria a abrigar Brasília, a então nova capital do Brasil.
Do sonho à realidade, se passaram muitos anos. Só no início dos anos 50, o nosso lindo avião (que ainda não sabia-se que teria o consagrado formato) começou a ganhar corpo. Em 1955, foi delimitada uma área de 52 mil km², conhecida como Sítio Castanho, para a construção de Brasília. O nome foi oficialmente adotado por Juscelino Kubitschek, presidente eleito em 1956.
O formato do “avião”, ou da “cruz”, como queiram, surgiu em um concurso lançado pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O vencedor foi o arquiteto e urbanista Lúcio Costa, que idealizou Brasília com os Eixos Monumental mais longos e Rodoviário se cruzando e dividido entre as Asas Norte e Sul.
Em 1956 se iniciou o grande êxodo de milhares de brasileiros atraídos pelos canteiros de obras espalhados por uma terra desconhecida e inóspita, marcada por barro, poeira e vento frio. E esses trabalhadores ficaram conhecidos como “Candangos”, dos quais, com muito orgulho, sou filho. Meu pai, João Paixão, vindo de Pernambuco, em 1958, e minha mãe Yolanda Gomes, do Piauí, em 1959, chegaram antes da inauguração de Brasília. Meu pai João Paixão foi coroinha do padre Roque, que atuou por quase 40 anos na região da Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante, até seu falecimento em 1994. Meus pais e meus avós me contaram inúmeras histórias que, em algumas poucas linhas, seria impossível de contar.
Agora, nossa capital está completando 65 anos. É uma jovem capital com problemas de grandes e centenárias cidades brasileiras. Brasília está do jeito e do tamanho da importância que damos a ela. A cidade que deveria ser referência em políticas públicas, precisa ser urgentemente “reinaugurada” com o mesmo sentimento e ideais dos visionários que a criaram e construíram.
Apesar de tudo, Brasília merece ser celebrada. A cidade não se tornou realidade por nada ou para nada. Apesar dos constantes ataques que sofre daqueles que nunca tiveram amor pelo Brasil, e sim por egoístas projetos de poder, Brasília surgiu para dar voz e vida para todos os brasileiros. E quem não entende a sua importância, não vai saber nunca celebrar a história, que aliás não pode ser reescrita.
Muitos vão afirmar que a construção de Brasília foi a grande responsável pelo surgimento da inflação. Outros vão afirmar que a construção da nova capital foi uma das principais causas da instabilidade econômica do governo João Goulart, que culminou no golpe militar de 1964. Os planos de Deus sempre virão recheadas de muitas desculpas para tentar desqualificar tudo que já estava escrito.
Reconheço que erros foram cometidos, principalmente na vocação da cidade para os carros, que infelizmente ainda são os protagonistas do nosso frágil e caótico sistema de transporte. Mas podemos “reinaugurar” Brasília com novas ideias. O que não pode ser feito e a construção de uma nova Brasília. Isso, com certeza, nunca mais vai acontecer. É uma cidade única, com todos os seus defeitos e qualidades. E repito: se você tem dúvida, é só olhar para o céu.
Fonte: viverpolitica.