Na derrota de 3 a 0 para o Racing, nesta terça-feira, o Fortaleza não parecia um time treinado pelo mesmo técnico, o argentino Juan Pablo Vojvoda, há quase quatro anos. Não havia encaixe na saída de bola; aconteciam erros de passe primários; o adversário encontrava buracos entre os setores; a marcação estava descompassada.
Em grau menor, em um cenário diferente, o torcedor do Palmeiras sentiu angústia parecida na final do Campeonato Paulista, contra o Corinthians. A incapacidade de criar ações ofensivas, a falta de soluções, a imobilidade – nada disso combinava com a organização tática, a naturalidade de movimentos, o automatismo de jogadas que marcaram boa parte destes quase cinco anos de Abel Ferreira no clube.
Estamos falando dos dois melhores trabalhos, das duas trajetórias mais consistentes no futebol brasileiro nos últimos anos.
Abel, dono de dez títulos pelo Palmeiras (incluindo duas Libertadores e dois Brasileirões), vive momento de contestação interna no clube. Juan Pablo Vojvoda, com cinco taças e três classificações para a Libertadores no Fortaleza, vê o time ser vaiado pela torcida. Ambos se encontram diante daquele que talvez seja o maior desafio para treinadores em trabalhos longevos: identificar o fim de um ciclo vitorioso e ser capaz de superá-lo sem grandes traumas.
O Palmeiras vem fazendo essa transição de forma suave e sistemática. Jogadores do time campeão da Libertadores em 2020 foram saindo gradativamente (Felipe Melo, Willian, Danilo, Viña, Luan, Luiz Adriano, Patrick de Paula, Lucas Lima). Mas agora a ruptura é maior: nesta virada de ano, partiram nomes de peso – Dudu, Zé Rafael, Rony. E outros, ídolos da torcida, não vivem seus melhores dias – casos de Gustavo Gómez e Raphael Veiga.
No Fortaleza, foi sintomático que as vaias da torcida contra o Racing tenham sido direcionadas especialmente a Pol Fernández, buscado no Boca Juniors, na virada do ano, como principal reforço para 2025. David Luiz, outra contratação importante do clube, também enfrenta contestações. Neles, ficam simbolizadas as dificuldades enfrentadas por um time em transformação.
– Este ano, não encontramos regularidade. Para isso, precisamos dar continuidade a uma quantidade de jogadores – disse Vojvoda depois do jogo.
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Vojvoda em Fortaleza x Racing — Foto: Kid Jr./SVM
O apuro para sustentar um trabalho vitorioso atinge até Pep Guardiola. Ele vem enfrentando problemas no Manchester City desde idos de 2024. Em menos de um ano, perdeu a final da Copa da Inglaterra para o Manchester United, caiu para o Real Madrid nos playoffs da Champions League, foi superado pelo Tottenham nas oitavas de final da Copa da Liga Inglesa e está em quinto lugar na Premier League.
– O que nos faltou nesta temporada foi coração, alma e o desejo que sempre tivemos por muitos anos. Isso para mim como treinador é a coisa mais importante para recuperar. Recuperar a alma, essa paixão – disse Guardiola nesta semana, ao analisar o momento do City.
Em fevereiro, Guardiola já havia admitido que vivia um fim de ciclo no Manchester City. “As coisas não são eternas”, disse ele, abrindo a possibilidade de deixar o clube. Foi essa também a frase formulada por Mário Gobbi, então presidente do Corinthians, no fim de 2013, ao anunciar que Tite não renovaria contrato: “Nada é eterno.” Um ano antes, o treinador havia sido campeão mundial pelo clube contra o Chelsea.
Abel Ferreira já demonstrou, no Palmeiras, capacidade de renovação. Sem isso, não teria conquistado tantos títulos ao longo de tanto tempo. O mesmo vale para Vojvoda no Fortaleza. A dúvida é se eles ainda serão capazes de reinventar suas equipes em 2025, ano em que o Palmeiras padeceu para chegar à final do Campeonato Paulista – e ano em que o Fortaleza, com justiça, perdeu o título estadual para o Ceará.
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Fonte: G1