“Podemos ter sucesso na próxima temporada? Não, de jeito nenhum. E em alguns anos? De forma alguma, porque não teremos as pessoas, as instalações e as ferramentas necessárias”. As palavras do diretor Mattia Binotto sobre a Sauber de Gabriel Bortoleto podem ser um balde de água fria nas expectativas sobre o brasileiro, que estreia na F1 no domingo (16). Mas, de fato, é preciso manter os pés no chão e entender que a equipe e o jovem piloto terão duras batalhas pela frente para tentar acompanhar o ritmo das fortes rivais.
Binotto, na ocasião, pontuou que a Sauber não deve visar grandes resultados pelo menos nos próximos três anos, e vitórias, não antes da próxima década. A equipe, na qual ele passou a atuar ainda em meados do último ano, terminou 2024 na lanterna do Mundial de construtores com quatro pontos, embora com a perspectiva futura de melhora após o anúncio da parceria com a alemã Audi.
As dificuldades no período não se limitaram apenas aos domingos de corrida; nas classificações, o time foi além do Q2 em 11 das 24 sessões. No Q3, só duas vezes: com o décimo e nono lugares de Valtteri Bottas nos GPs da China e Abu Dhabi, e ele abandonou ambas as provas. No Catar, Guanyu Zhou faturou os únicos quatro pontos do time de toda a temporada ao chegar em oitavo lugar.
E se a visão de Binotto soa pessimista, dá para apostar que o cenário pode melhorar ao menos em 2026, quando a Sauber vira Audi e adentra uma nova era de motores e carros na F1. A boa notícia para os brasileiros é que a presença de Bortoleto no grid estará garantida, já que, sob o novo regulamento da categoria, seu contrato com o time é plurianual. Com isso, o Brasil deve seguir com um piloto no grid para além de 2025 – vale lembrar que a chegada de Gabriel à F1 marca o fim de um jejum de oito anos, que durava desde a saída de Felipe Massa da categoria, em 2017.
Mas, afinal de contas, o que o público brasileiro pode esperar de Gabriel Bortoleto na Fórmula 1 já em 2025, antes dessas mudanças? Com um carro pouco veloz e a inexperiência do jovem na principal categoria do automobilismo, os comentaristas do ge acreditam que o principal objetivo do paulista é fazer um bom trabalho dentro das limitações da Sauber e, se possível, superar o veterano companheiro de equipe, o alemão Nico Hulkenberg. Veja as opiniões:
Luciano Burti
“O Bortoleto tem uma questão que pode ser um problema e ao mesmo tempo, é algo que pode ajudá-lo. Por quê? A Sauber foi a pior equipe do ano passado, teve dificuldade de marcar poucos pontos. Então esse é um problema teoricamente, tá? Eu não os vejo dando um grande passo para começar esse ano. Talvez seja ali sim a última ou a penúltima equipe do grid em termos de performance. Mas se isso é um problema, ao mesmo tempo, para um piloto novato como o Bortoleto, tira a pressão de não ter que mostrar resultado logo de cara. O que ele tem que mostrar é o seu desempenho em relação ao companheiro de equipe. O Nico Hulkenberg é muito experiente, é um piloto respeitado. Todo mundo sabe que ele é superveloz. Então, se o Bortoleto andar de igual para igual, eventualmente à frente do Hulkenberg, isso é um ponto superpositivo. Mesmo o carro não sendo competitivo, vai mostrar que ele já está preparado para a Fórmula 1.
Recentemente eu falei com ele, ele está com uma cabeça boa, está se sentindo bem fisicamente, que é uma baita questão para um piloto novato na Fórmula 1. Está tecnicamente já se entrosando com o engenheiro, o engenheiro novo que veio da McLaren. Está se entrosando com a equipe, está aprendendo a trabalhar com os pneus, que na Fórmula 1 é um pouco diferente do que ele tinha na Fórmula 2. Então sim, a cabeça está boa e deixa ele preparado.”
Rafael Lopes
“Bom, as chances do Bortoleto nesse ano são basicamente de fazer um bom trabalho. A gente tem que lembrar que a Sauber foi a pior equipe do ano passado. Ela vai se tornar Audi no próximo ano, então dificilmente vai ter um grande investimento na temporada de 2025. É uma temporada de transição para se tornar Audi em 2026. O grande objetivo do Gabriel nessa temporada é tentar andar no mesmo ritmo do companheiro de equipe dele, o veterano Nico Hulkenberg. Claro, tentar superar o Nico Hulkenberg ali a partir da metade do ano, conseguir bons desempenhos, sempre andar ali próximo pelo menos do companheiro de equipe dele, que é um piloto reconhecidamente muito experiente e muito elogiado pelas equipes da Fórmula 1. Não dá para esperar vitória, não dá para esperar pódio, não dá para esperar sequer pontos.
Ponto para ele, um décimo lugar seria uma vitória, mas em uma corrida em que muita gente tivesse problemas, aquelas corridas caóticas que a gente às vezes tem na Fórmula 1 e que estão ficando cada vez mais raras. Acho que o grande objetivo do Gabriel é tentar ser consistente, é não cometer erros, é não bater demais o carro e tentar, claro, andar próximo do companheiro de equipe dele, o Nico Hulkenberg, para se manter ali, sendo bem avaliado pela Sauber e pelo restante da Fórmula 1″.
A concorrência é mais um fator que pode dificultar a vida do jovem paulista nas pistas em 2025: dentre os outros calouros que reforçaram o grid desta temporada assim como ele, há dois em carros vencedores de GPs: Liam Lawson, reforço da RBR, e Andrea Kimi Antonelli, da Mercedes. A RB de Isack Hadjar, a Haas de Oliver Bearman e a Alpine de Jack Doohan também prometem estar no páreo na parte de baixo do pelotão de 2025, bem como a Williams dos experientes Carlos Sainz e Alexander Albon, e a Aston Martin de Fernando Alonso – mentor do brasileiro no automobilismo.
A expectativa, portanto, não é de grandes resultados para a Sauber, mas se volta para o que Bortoleto vai conseguir fazer apesar da limitação técnica de seu equipamento. Nada descarta, porém, que a estrela do atual campeão da Fórmula 2 brilhe nesta abertura de campeonato, assim como seu compatriota Felipe Nasr, que pontuou ao chegar em quinto lugar com a mesma Sauber em um caótico GP da Austrália de 2015.
Evolução do carro é incógnita
O desempenho da equipe suíça nos testes de pré-temporada, realizados no fim de fevereiro no Circuito do Bahrein, também não foi animador; a equipe teve a terceira menor quilometragem das sessões (354 voltas), sofreu um problema hidráulico no C45 guiado por Bortoleto no último dia e seu ritmo de corrida ficou para trás em comparação com algumas outras rivais. A dirigibilidade apresentada nas câmeras de bordo também preocupou.
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Gabriel Bortoleto pilota a Sauber no Bahrein — Foto: Hamad I Mohammad/Reuters
Entretanto, a equipe tem em Hulkenberg um balizador: com 37 anos de idade e na Fórmula 1 desde 2010, o alemão pode ser um importante norte da equipe como um todo e auxiliar no desenvolvimento do C45, que pode ajudar a pavimentar o caminho para um 2026 de possibilidades maiores, já como Audi e com os novo regulamentos técnicos e de motores.
O veterano descartou ser mentor de Bortoleto, mas a experiência dele aliada à juventude do brasileiro pode fazer com que a Sauber dê um salto de desempenho em relação ao mau ano de 2024, na visão de Rafael Lopes. O comentarista também destacou que a Sauber teve mais tempo para trabalhar no carro deste ano, já que o regulamento dá às piores equipes mais tempo para testes no simulador e no túnel de vento:
– Esse carro da Sauber evoluiu um pouquinho no ano passado, a gente lembra que no fim do ano a Sauber conseguiu marcar pontos. Ficou quase a temporada inteira zerada e conseguiu fazer pontos no fim da temporada. Não acho que seja uma tendência para esse ano. Acho que, ao mesmo tempo, ela tem pilotos melhores do que no ano passado. A dupla Hulkenberg-Bortoleto é uma dupla melhor do que a dupla Bottas-Zhou. Então, acho que com o trabalho dos pilotos e com uma equipe técnica melhor do que a equipe tinha no ano passado, provavelmente a equipe vai conseguir melhorar o carro ao longo do ano. Se vai ser o suficiente para marcar pontos já na segunda metade do ano, não sei. Acho que as outras equipes também vão evoluir. Mas a Sauber tem uma vantagem nessa temporada.
