O Ministério Público da Bahia (MP-BA) instaurou um inquérito civil para investigar Claudia Leitte por uma suposta prática de racismo religioso porque a cantora trocou a referência a Iemanjá na letra de uma música por “Yeshua”, devido à sua crença em Jesus Cristo.
A investigação teve início após uma apresentação na qual a artista interpretou a música Caranguejo, tradicionalmente associada à saudação a Iemanjá, orixá das religiões de matriz africana.
Como ela substituiu o trecho “saudando a rainha Iemanjá” por “Canto meu rei Yeshua”, a Iyalorixá Jaciara Ribeiro e o Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro) denunciaram Claudia Leitte à Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.
A promotora de Justiça Lívia Sant’Anna Vaz declarou que o procedimento visa apurar a responsabilidade civil da cantora por uma possível violação de bem cultural e dos direitos das comunidades religiosas de matriz africana. Além disso, o MP-BA investiga a possibilidade de uma responsabilização criminal.
Até o momento, a assessoria de Claudia Leitte não respondeu aos pedidos de posicionamento.
Exploração política
A polêmica surgiu após o secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, criticar publicamente Claudia Leitte pela alteração da letra. Ele classificou a atitude como racismo e destacou que a mudança reflete apropriação cultural e desrespeito à cultura afro-brasileira.
Entretanto, desde 2014 – período em que Claudia se tornou evangélica – ela interpreta a música com referência a Jesus.
Tourinho ressaltou a contradição entre a utilização de elementos da cultura afro-brasileira na carreira da artista e a decisão de alterar a música, especialmente no contexto da celebração dos 40 anos do Axé Music.
Segundo ele, a atitude reforça o desrespeito histórico à cultura negra no Brasil: “Quando um artista que se diz parte desse movimento […] escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, o nome disso é racismo”.
Carlinhos Brown rebate
A cantora Ivete Sangalo demonstrou apoio à crítica de Tourinho ao curtir sua publicação, mas não emitiu declaração oficial sobre o caso.
Por outro lado, o músico Carlinhos Brown defendeu Claudia Leitte, afirmando: “Claudia Leitte não é uma pessoa racista”. Ele destacou a importância do respeito às manifestações religiosas e culturais, mas ponderou sobre a complexidade do tema, reconhecendo que a discussão é sensível.
O caso levanta debates sobre liberdade religiosa, respeito cultural e o uso de símbolos afro-brasileiros no cenário musical. Enquanto defensores das comunidades de matriz africana discursam em sentido de monopólio da herança africana, outros destacam a miscigenação na sociedade brasileira e um verdadeiro “caldeirão cultural” em que diferentes tradições se mesclam.