A Polícia Federal revelou detalhes de um plano que incluía ações extremas para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atacar figuras chave do Judiciário. O então presidente Jair Bolsonaro, com um decreto golpista pronto, buscava apoio das Forças Armadas para consumar o ato, mas a resistência do general Freire Gomes, comandante do Exército, e da maioria do Alto Comando, foi determinante para frustrar o plano. Sem a adesão militar, o decreto não foi assinado, e o plano de prender ou executar o ministro Alexandre de Moraes foi abortado.
No dia 15 de dezembro de 2022, Bolsonaro recebeu Freire Gomes no Palácio do Planalto, em um esforço final para conquistar o apoio das Forças Armadas. Naquele mesmo dia, Mario Fernandes, então número dois da Secretaria-Geral, enviou um áudio ao general Luiz Eduardo Ramos, mostrando otimismo.
“Kid Preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem”, afirmou Fernandes. Contudo, Gomes reafirmou sua posição institucional, frustrando os planos do grupo golpista.
Enquanto isso, uma equipe de seis pessoas monitorava os passos de Moraes em Brasília. Segundo o relatório da PF, o grupo usava carros de aplicativos e celulares descartáveis para dificultar a rastreabilidade de suas ações. Codinomes como “Brasil”, “Alemanha” e “Japão” foram adotados para proteger a identidade dos envolvidos. Os investigadores indicam que o grupo estava posicionado em locais estratégicos próximos ao Supremo Tribunal Federal e à residência funcional de Moraes.
Essa operação fazia parte do plano denominado “Punhal Verde Amarelo”, que previa ações coordenadas contra alvos específicos. O relatório destaca: “Os elementos de prova apresentados demonstram que a ação clandestina realizada pelos investigados tinha como alvo o ministro Alexandre de Moraes”. Contudo, com a negativa de adesão militar, a missão foi abortada antes de ser executada.
Além de Moraes, a trama incluía medidas para inviabilizar a posse de Lula e Alckmin. O plano de ataque foi uma das iniciativas documentadas pela investigação que conectam Bolsonaro e seu núcleo próximo às tentativas de ruptura institucional. O uso de celulares descartáveis e codinomes reforça a natureza clandestina das ações, que visavam evitar rastreamento e preservar o anonimato dos participantes.
A negativa de Freire Gomes e do Alto Comando do Exército foi determinante para desarticular o plano. Essa resistência expôs divisões internas nas Forças Armadas, com uma minoria alinhada ao golpismo e a maioria mantendo a defesa do Estado Democrático de Direito. Segundo a PF, a ausência de apoio armado minou a confiança do grupo em avançar com o golpe.
A investigação indica que, apesar do fracasso, o nível de planejamento e a participação de figuras-chave do governo, incluindo Bolsonaro, evidenciam a gravidade da tentativa de ruptura institucional. “A ação clandestina para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, afirma o relatório da PF, que destaca como fatores externos à vontade do então presidente foram cruciais para impedir a consumação do golpe.
O material foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) por Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal. Com mais de 800 páginas, o relatório reúne provas que embasam os indiciamentos de 37 pessoas, incluindo Jair Bolsonaro. Agora, cabe ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidir se apresenta denúncia contra os investigados, arquiva o caso ou solicita novas diligências.
A investigação revelou que, nos meses anteriores, Bolsonaro e seus aliados monitoraram constantemente as ações de figuras como Moraes e outros membros do Judiciário. Essa vigilância incluía espionagem e coleta de informações sensíveis, buscando antecipar movimentos e encontrar brechas para executar seus planos.
Fonte: G1