O Brasil registrou queda de 8% nas emissões de gases estufa em 2022, de acordo com os dados do relatório “Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Observatório do Clima”, o SEEG, divulgado nesta quinta-feira (23). Apesar da redução, os números são a terceira maior marca observada desde 2005 – ficando atrás somente dos anos de 2019 e 2021.
A redução na taxa de desmatamento da Amazônia no ano passado e o grande volume de chuvas, que geraram uma diminuição recorde no acionamento de termelétricas fósseis, foram os dois principais fatores que contribuíram para esse resultado.
Segundo a análise do relatório, o aumento das emissões ao longo dos últimos quatro anos impõe desafios para que o Brasil cumpra a meta de redução estabelecida no Acordo de Paris. Para que seja cumprida, é preciso diminuir em 49% as taxas de emissão provenientes do desmatamento na Amazônia até 2025. Esse objetivo é equivalente à média mais baixa de devastação já registrada no país, entre 2009 e 2012.

- Entre 2019 e 2022, o Brasil emitiu 9,4 bilhões de toneladas brutas de gases do efeito estufa, retornando aos patamares observados entre os anos 1990 e início dos anos 2000;
- O Brasil é o sexto maior poluidor climático, responsável por 3% das emissões globais. O país fica atrás de China, EUA, Índia, Rússia e Indonésia;
- A devastação de todos os biomas brasileiros correspondeu a 1,12 bilhão de tonelada de gás carbônico (CO2) emitida, ou seja, 48% do total registrado;
- Na agropecuária houve aumento recorde nas emissões, com alta de 3%, o maior desde 2003.
Setores mais poluentes
Como observado em anos anteriores, as mudanças do uso de terra foram responsáveis por grande parte das emissões de gases em 2022. O setor correspondeu a 48% do total, contra 52% registrado em 2021.
Apesar de ter grande participação nos números, a redução de 11% do desmatamento na Amazônia em 2022 contribuiu para a diminuição no total de gases emitidos.
Participação dos setores nas emissões de gases do efeito estufa no Brasil. — Foto: SEEG/Observatório do Clima
A agropecuária foi o segundo setor mais poluente de CO2, com 27% das emissões nacionais. Os números de 2022 foram os mais altos da série histórica para o setor, com uma alta de 3,2% em relação ao ano de 2021. É o segundo maior aumento percentual desde 2004.
🐂Na agropecuária são contabilizadas as emissões provenientes da digestão dos animais, que emite metano e da queima e manejo dos resíduos agrícolas de alguns cultivos.
Já com relação ao setor energético, terceiro mais poluente, houve queda de 5% na emissão de gases. De acordo com Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente, organização responsável pelas contas do setor, o resultado positivo foi consequência das condições climáticas favoráveis para a geração de energia hidrelétrica.
“Somente essas condições climáticas fizeram com que o Brasil reduzisse o equivalente a 36 milhões de toneladas, ou um Uruguai, na geração de eletricidade. Isso compensou em parte o aumento das emissões dos transportes, que são o maior consumidor de combustíveis fósseis da matriz brasileira”, explica Felipe Barcellos e Silva.
Cumprimento das metas
O SEEG também analisou a possibilidade do cumprimento das novas metas de redução de emissão estabelecidas pelo governo federal.
Com base no histórico de emissões de 1990 a 2022, avalia-se que tanto os objetivos estabelecidos para 2025 quanto para 2023 podem ser cumpridos. No caso da meta de 2025, é necessário reduzir o desmatamento na região amazônica em 33%.
“O que os dados do SEEG mostram é que há muito espaço para aumento da ambição climática do Brasil. E, se o governo estiver falando sério sobre ser o grande defensor da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima da média pré-industrial, terá de aumentar a ambição da NDC atual já para 2030, como todos os grandes emissores precisam fazer”, afirma David Tsai, coordenador do SEEG.
Fonte: G1