As aves marinhas da espécie Thalasseus acuflavidus, conhecida Trinta-réis-bando, e que foram resgatadas no litoral do Espírito Santo contaminadas com o vírus a influenza aviária, o H5N1, são típicos de todos o litoral brasileiro. Segundo especialistas, todos os anos, milhares dessas aves voam até o litoral capixaba para se reproduzir. O alerta da contaminação foi feito nesta segunda-feira (15) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
Segundo o médico e ambientalista César Musso, que monitora a espécie desde 1988, essas aves marinhas são as que mais se reproduzem no Espírito Santo.
“Embora nos últimos anos tenha variado em relação à quantidade, a média é de 10 mil aves por ano. A espécie tem características migratórias. Ou seja, vivem dispersas no oceano e voltam para o litoral capixaba para se reproduzir”, disse o ambientalista.
Musso explicou ainda que ao longo desses mais de 30 anos de pesquisas, mais de 40 mil aves já foram identificadas, ou seja, anilhadas e acompanhadas por pesquisadores. Uma das conclusões ao longo desse tempo é que esses animais não vêm de outros continentes, como da Europa ou a América do Norte.
“Essas aves circulam no litoral do Atlântico Sul. Já foram encontradas aves do Maranhã até a Patagônia, na Argentina Algumas aves já nasceram aqui, eu anilhei (identifiquei). Tem aves que foram encontradas com mais de 20 anos de idade na costa brasileira”, disse.
Prevenção e cuidados
O médico veterinário especializado em animais silvestres Eduardo Lázaro explicou que a transmissão da gripe aviária para outros animais só é possível quando este contato é muito próximo.
“Para uma ave passar gripe para a outra, elas precisam estar próximas. As chances desta ave marinha ir a uma granja é mais difícil. Lógico que as pessoas que cuidam destas aves devem ter cuidados sanitários, mas não é o momento de alarde”, disse.
O especialista também explica a relação da doença e a associação com as aves de granjas, como galinhas.
“Não devemos fazer a associação a galinhas. A doença foi encontrada em uma ave marinha, que é migratória. São aves que não são da região, como as galinhas, que são”, falou.
O veterinário disse ainda que uma forma de prevenção, sobretudo para quem tem aves em casa, é evitar sair com os animais, monitorar o comportamento dos bichos e levar ao especialista caso perceba algum doença.
“Qualquer problema, verifique se está tudo bem. Se você vir uma ave doente na rua, acione a vigilância sanitária”, disse.
Gripe aviária
Diante do primeiros casos de gripe aviária informados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária nesta segunda-feira (15), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que os animais infectados não fazem parte do sistema industrial brasileiro, ou seja, os casos não afetam aves e ovos disponíveis nos supermercados e a seguridade alimentar da população.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou estado de alerta de emergência devido aos casos.
Segundo nota da instituição, a medida busca “aumentar a mobilização do setor privado e de todo o serviço veterinário oficial para incrementar a preparação nacional, aumentando a vigilância sobre a pandemia de gripe aviária”.
Nessa reportagem, será explicado:
O que é influenza aviária?
A influenza aviária é considerada uma doença viral altamente contagiosa que afeta, principalmente, aves silvestres e domésticas.
Entre os sintomas, estão:
- andar cambaleante;
- pescoço torto;
- aspecto abatido;
- dificuldade respiratória;
- diarreia;
- alterações bruscas no consumo de água e ração nas aves de criação;
- redução na produção ou má formação de ovos.
Atualmente o mundo vivencia a maior pandemia de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) e a maioria dos casos está relacionada ao contato de aves silvestres migratórias com aves de subsistência, de produção ou aves silvestres locais, aponta o Ministério da Agricultura e Pecuária.
Humanos podem ser infectados?
Sim, as infecções em humanos podem acontecer, principalmente, por meio do contato com aves contaminadas, vivas ou mortas.
Por isso, o ministério alerta que ao avistar aves doentes ou perceber um grande número de aves silvestres mortas, é preciso acionar o serviço veterinário local ou realizar a notificação por meio do e-Sisbravet.
Não é recomendado tocar e nem recolher aves doentes.
Como os casos foram identificados?
Os animais foram resgatados na quarta-feira (10) pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO), que iniciou a investigação para confirmar a suspeita de influenza aviária, após uma notificação recebida pelo Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos de Cariacica, no Espírito Santo.
As amostras foram enviadas ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP), unidade de referência da OMSA, que confirmou se tratar de IAAP de subtipo H5N1.
Quais medidas estão sendo tomadas?
O Ministério da Agricultura e Pecuária alerta que, dependendo da evolução dos casos e do cenário epidemiológico, novas medidas sanitárias poderão ser adotadas pelo Mapa e pelos órgãos estaduais de sanidade agropecuária para evitar a disseminação da doença e proteger a avicultura nacional.
A instituição disse que notificou a OMSA a respeito da detecção.
O que o diz o setor
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES) enviaram uma nota conjunta se posicionando sobre os casos de gripe aviária identificados e informaram que o setor segue mobilizado para monitoramento por meio do comitê de crise denominado Grupo Especial de Prevenção à Influenza Aviária (GEPIA).
Eles ressaltam que os animais infectados não fazem parte do sistema industrial brasileiro, “que segue os mais rígidos protocolos de biosseguridade. Por isso, não há qualquer mudança em relação ao abastecimento interno de produtos.”
Também reiteram que não são esperadas mudanças no fluxo de comércio internacional de produtos brasileiros.
Por fim, a ABPA afirma que é “totalmente seguro o consumo da carne de aves e ovos, segundo informações cientificamente respaldadas pela OMSA, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e outros órgãos reconhecidos internacionalmente.”