As cenas de terror vividas no domingo (22) ficaram registradas na memória de Francisco dos Santos, 59 anos. O motorista foi espancado e teve o seu carro depredado por torcedores da Mancha Azul, torcida organizada do CSA, enquanto transportava torcedores do CRB para o Rei Pelé. Um dia após o ocorrido, a sensação ainda é de medo e angústia. Em entrevista ao g1 nesta segunda-feira (23), ele disse que temeu pela própria vida.
“Eu não quero mais sair de casa, sinto muito medo. Não posso nem lembrar do que aconteceu [chora]. Foi horrível, horrível, eu achei que fosse morrer. Eu não sabia o que fazer, sabia que tinha que fugir. Então eu fugi, pela minha vida”, disse, chorando.
Após o ataque, a sua Parati modelo 2010 ficou com os pneus furados e os vidros quebrados. Francisco usava o carro para trabalhar.
“Perdi tudo. Não sei o que fazer. É como se eu tivesse perdido os meus pés e as minhas mãos”, lamentou.
No dia do ataque, Francisco transportava dois torcedores, conhecidos seus, de Sauaçui, em Ipioca, para o Trapichão. Era a estreia do CRB na Copa do Nordeste. Apesar de torcer para o Galo, e de vestir a camisa alvirrubra naquele dia, ele estava indo ao estádio somente a trabalho.
“Eu estava indo trabalhar. Fui levar eles, não imaginava que ia passar por aquilo. Foi uma cena de terror. Eu já estava ali, na Avenida Gustavo Paiva, quase em frente ao shopping, estava dirigindo, eles apareceram jogando pedra, tijolo no meu carro. Eu não parei, continuei dirigindo, pensando somente em escapar dali, só que eles partiram para cima, chegaram a jogar uma bomba que, por sorte, não estourou”.
O ataque ao carro de Francisco não foi um caso isolado. No mesmo dia, enquanto o CRB enfrentava o Sergipe, no Nordestão, a Mancha Azul organizava uma festa em comemoração aos seus 30 anos no Jaraguá. As brigas aconteceram em outros pontos da cidade, com atos de vandalismo e quebra-quebra.
Além do susto, Francisco está tendo que lidar com o prejuízo causado. Sem o carro, ele não está conseguindo trabalhar. A filha, Talita, comovida com a situação do pai, resolveu fazer uma vaquinha para ajudar na reparação do veículo.
“Ele trabalhava com o carro, fazia essas corridas para ganhar o dinheiro dele. Agora estamos tentando arrecadar, juntar o que pudermos para arrumar o carro dele. Meu pai está muito assustado, não quer sair de casa. Ele já teve um AVC, tem pressão alta, e olha pelo que ele passou… Até o celular foi roubado por eles. Meu pai apanhou muito, é só lembrar que chora”, disse a filha.
O Ministério Público do Estado de Alagoas (MP-AL) enviou um ofício ao Comando de Policiamento da Capital (CPC) solicitando “relatório e as devidas identificações das torcidas, bem como dos torcedores envolvidos”.
Promotores de Justiça cobram da Polícia Militar a identificação dos responsáveis pelos atos de vandalismo para que eles sejam investigados e punidos.
Fonte: G1