Quando o presidente Bolsonaro sugeriu que tem um suposto acordo com o ministro da Justiça, as chances de Sérgio Moro para conquistar uma cadeira no STF foram diminuídas. Parte da opinião pública, certamente, condenou o toma-lá-da-cá do presidente com o ministro. Na última quinta-feira, o mandatário da República disse que não tinha acordo.
Em razão da ausência de base parlamentar prol governo Bolsonaro, o projeto anticrime do ministro da Justiça pode não ser aprovado no Parlamento. Ele também poderá perder o COAF. As atitudes de Sérgio Moro no passado fizeram com que ele conquistasse a desconfiança de parcela da classe política.
Em algum momento, o Ministro da Justiça reagirá. Não interessa a Sérgio Moro, considerando que ele é um bom estrategista, ficar em um governo que tende, neste instante, conquistar alta impopularidade. Moro também não deseja ter os seus principais desejos no Ministério não contemplados. A não ser…
A saída de Moro do governo é ruim. O ex-juiz da Lava Jato trouxe credibilidade ao presidente Bolsonaro. Construiu esperança no eleitorado antipetista de que o enfrentamento à corrupção será, assim como foi no passado, célere e abrupto. Desconfio que a esperança não esteja apenas no âmbito da corrupção. Eleitores têm a expectativa de que Sérgio Moro traga segurança pública eficiente.
O sucesso de Sérgio Moro no governo não interessa ao presidente Bolsonaro. Mas, o presidente gostaria que o seu ministro da Justiça contribuísse fortemente para o sucesso do seu governo. Como pode? Às vezes, a estratégia escolhida tem o poder de trazer danos, aparentemente, não vislumbrados.
Se Sérgio Moro for um sucesso no governo, estratégia (desejo) aparentemente ótima do presidente Bolsonaro, ele pode querer a presidência da República em 2022. Entretanto, o sucesso de Moro no governo pode representar consequência drástica para o presidente, pois Bolsonaro pode desejar a reeleição. O sucesso de Bolsonaro ameaça Sérgio Moro, caso este tenha o forte desejo de ser candidato a presidente. A impopularidade do governo fortalece o desejo presidencial de Moro e o obriga a deixar o ministério. Os interesses de Moro e Bolsonaro não são, aparentemente, convergentes. Em algum momento, isto ficará claro. A não ser que o principal desejo de Moro seja, de fato, a cadeira do STF, e não a presidência da República.
Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor Associado da UFPE.