O presidente eleito Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (19) em conversa com jornalistas no Rio de Janeiro que “o povo brasileiro não sabe o que é ditadura aqui ainda”.
A resposta foi dada em meio a um questionamento sobre sua conversa por telefone com Viktor Orbán, primeiro-ministro de extrema direita da Hungria.
“É um país que sofreu muito com o comunismo no passado, é um povo que sabe o que é ditadura, o povo brasileiro não sabe o que é ditadura aqui ainda, não sabe o que é sofrer nas mãos dessas pessoas, tá certo, e ele tá muito feliz com a nossa eleição e nós com toda certeza seremos grandes parceiros para o futuro”.
A Hungria viveu uma ditadura comunista brutal sob a ocupação soviética entre 1949 e 1989, marcada por forte repressão e milhares de mortos e exilados.
“Orbán parabenizou o novo chefe de Estado brasilero, que assumirá o cargo em janeiro, e explicou que vê com agrado que os valores que a Hungria considera como importantes tenham ganhado graças a Bolsonaro”.
Democracia e imigração
Orban, que está em seu terceiro mandato, recebeu recentemente uma moção de censura do Parlamento Europeu, a primeira do tipo na história, por violar salvaguardas democráticas da União Europeia em relação à liberdade acadêmica, de expressão, pelo seu sistema eleitoral e político e por sua atuação contra minorias, entre outras questões.
O governo de Orbán é conhecido pelo discurso xenofóbico e pela política linha-dura em relação à imigração; seu governo aprovou medidas para registrar, penalizar e punir pessoas e organizações que auxiliem imigrantes ilegais a conseguirem residência legal.
Questionado sobre isso, Bolsonaro respondeu sobre o contexto brasileiro: “Se são não-governamentais, por que receber dinheiro do governo? Nós vamos dar um tratamento específico pra ONGs no Brasil. Empresas públicas não vão financiar ONGs pra fazer campanha contra interesse nacional no Brasil”, sem definir o que seria o interesse nacional ou tratamento específico.
Ele também disse que a Lei de Imigração regulamentada em novembro do ano passado pelo governo de Michel Temer transformou o Brasil em um país “sem fronteiras” e que “se essa lei continuar em vigor qualquer um pode entrar no Brasil e chega aqui com mais direitos do que nós”.
A lei, que substitui o Estatuto do Estrangeiro feito em 1980 ainda na ditadura militar, cria a figura do “visto humanitário” temporário e define novas regras para o estrangeiro estabelecer residência no Brasil.