Após o presidente eleito Jair Bolsonaroreiterado em suas redes sociais no dia 1 de novembro que pretende mudar a embaixada do país para Jerusalém logo que assumir o cargo, boa parte da mídia começou a fazer campanha contra.
O cancelamento da missão empresarial brasileira ao Cairo por ordem do governo do Egito na semana passada foi alardeada por aqui como a primeira “represália” ao anúncio, mas Bolsonaro minimizou, afirmando ter sido conflito de agenda.
Logo nos primeiros minutos da transmissão ao vivo que fez na sexta (9), pelo Facebook, o capitão lembrou que as relações do Brasil com Israel são antigas e o diplomata Oswaldo Aranha presidiu, em maio de 1947, a sessão da ONU que permitiu o ressurgimento do Estado Judeu após quase dois mil anos.
“Eu não estou contra Israel… Quem decide onde é a capital de Israel é o Estado de Israel. O Brasil não mudou a capital do Rio de Janeiro para Brasília? Teve algum problema? Quem decide isso somos nós”, afirmou o futuro mandatário da nação.
O assunto tem incomodado muita gente. Analistas ouvidos por vários órgãos de imprensa ecoam por aqui o mesmo tipo de discurso sobre “retaliação” que Donald Trump ouviu nos EUA quando decidiu fazer o mesmo. Alguns países árabes teriam sinalizado que isso poderia prejudicar as relações e afetar a venda de carne brasileira, num mercado de bilhões de dólares.
Até o momento nada além de retórica política. A pauta é sensível para os órfãos da política externa de Lula, amigo de lideranças muçulmanas e que reconheceu a Palestina como país em 2010. Os palestinos alegam que Jerusalém Oriental será a capital de seu futuro estado.
Há uma nova era chegando nas relações internacionais do Brasil. O rompimento com as ditaduras de Cuba e Venezuela já foi anunciado pelo presidente bem como o fechamento de embaixadas ‘ociosas’ abertas nos anos do PT no governo.
A busca pela tecnologia israelense como solução para o histórico drama da seca no Nordeste era uma promessa de campanha de Bolsonaro, bem como a mudança da embaixada. Fiel ao seu estilo, o pesselista não vem se deixando pautar pela mídia, que tende a repetir muitos dos argumentos dos movimentos de esquerda do país. Israel deve ser uma das primeiras viagens do novo presidente, logo após sua ida a Chile e Estados Unidos.
Influência evangélica
Há quem aponte que existe por aqui um lobby evangélico, segmento fundamental para a eleição de Bolsonaro, em favor da mudança. Isso aconteceu de maneira muito contundente nos Estados Unidos, levando Trump e chamar dois pastores para fazerem orações durante a inauguração da embaixada americana em Jerusalém.
A ligação afetiva do presidente eleito – que já declaro “amar Israel” – não é essencialmente religiosa. Na visita que fez ao país, em 2016, aliou visitas técnicas com contatos políticos e momentos de fé. Foi batizado nas águas do rio Jordão pelo Pastor Everaldo, presidente do PSC, seu partido na época, embora nunca tenha usado isso como um sinal de ‘conversão’ ao protestantismo.
Ao falar o pequeno, porém desenvolvida nação do Oriente Médio, quase sempre Bolsonaro repete seu mantra: “Olha o que eles têm e o que eles são, olha o que nós temos e o que nós somos”. O político já entendeu que a obtenção da avançada tecnologia israelense em áreas como segurança e agricultura poderia ajudar o Brasil a dar um salto qualitativo nos próximos anos.
A mudança da embaixada para ele parece ser, antes de tudo, uma questão de restabelecimento da verdade histórica e do reconhecimento de autonomia de um povo. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que espera “reforçar a grande amizade entre nossos povos e fortalecer os laços entre Brasil e Israel” a partir do próximo ano.
O fato é que o futuro mandatário do Brasil vem enfrentando críticas da mídia e de seus opositores por praticamente tudo que faz. Nem a nomeação de um juiz para o ministério da Justiça e um astronauta para a pasta de Ciência e Tecnologia parece ter furado a verdadeira “bolha ideológica de oposição” contra ele.
A mudança da embaixada não tem data para acontecer mas, ao que parece, acabará se tornando mais uma demonstração de que o presidente eleito não se deixa pautar facilmente pela grande imprensa nem pela oposição.