A Anistia Internacional contabilizou mais de 2,5 mil notificações de tiros ou disparos de arma de fogo no Rio de Janeiro no último semestre do ano passado, uma média de 18 por dia. Foram registradas no aplicativo Fogo Cruzado pelo menos 539 vítimas e 570 feridos. Do total das mortes, 52 eram agentes públicos de segurança. Mais 90 policiais foram baleados.
O aplicativo Fogo Cruzado foi lançada pela Anistia Internacional em julho de 2016. Além das notificações compartilhadas colaborativamente pelos usuários, o relatório do aplicativo inclui dados coletados na imprensa e em canais da própria polícia, como os boletins diários publicados no site da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ).
O aplicativo teve mais de 50 mil downloads desde o seu lançamento. De acordo com a gestora de dados do Fogo Cruzado, Cecília Olliveira, o mapeamento dos tiroteios é algo inédito no Rio e ajuda a qualificar o índice de violência no estado. “Não esperávamos uma adesão tão maciça. As pessoas querem que esse assunto seja debatido, porque muitas violações não chegam a ser notícia. Nem todo o tiroteio vira um boletim de ocorrência e é contabilizado”, disse ela.
Violações
Os números mostram ainda as consequências dos tiroteios no dia a dia dos moradores, que têm o direito de ir e vir cerceado, além de sofrerem com interrupção de serviços básicos devido aos tiroteios. De acordo com a companhia de energia do Rio, Light, houve 268 interrupções no fornecimento de luz em decorrência de tiroteios no estado, 157 deles na zona norte da capital fluminense (58,5%).
“Uma pessoa morta ou ferida é a última instância da violência, mas há uma série de outras violências que não são contabilizadas. O tiro em si não é o único problema. O intuito é trazer essas informações para as discussões de segurança pública e qualificar o debate”, diz Cecília Olliveira.
Na comunidade do Jacarezinho, zona norte, que conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde 2013, a operação do teleférico do Complexo do Alemão foi suspensa 121 vezes em decorrência de tiroteios, de acordo com o Jornal Voz das Comunidades. Em outubro, o serviço foi definitivamente fechado por falta de pagamento do estado ao consórcio responsável.
Em 2016, a PM apreendeu 155 pistolas, 71 revólveres e 15 fuzis, somente em áreas com UPPs. No total foram apreendidos 371 fuzis no estado. Um dos maiores problemas levantados na CPI das Armas II, realizada no ano passado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), foi a falta de fiscalização e controle dos paióis das polícias e de empresas de segurança, decorrente de falhas de comunicação entre os órgãos do setor.








