Oito meses depois de ser citado por um delator como suposto envolvido em propinas para licitações da Petrobras, o empresário Eike Batista procurou voluntariamente o Ministério Público Federal para oferecer seu testemunho. O resultado da conversa entre Batista, advogados e procuradores veio à tona nesta quinta-feira (22), junto à 34ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Arquivo X”.
A transcrição do diálogo – um dos documentos que faz parte da investigação do caso e que não está protegido por sigilo – tem 37 páginas e revela detalhes sobre o suposto encontro entre o empresário e Guido Mantega, então ministro da Fazenda, em novembro de 2012. Também mostra o clima de tensão entre Eike e a Petrobras, principal concorrente brasileira de suas empresas de exploração de petróleo e gás.
Durante o depoimento, Eike classificou o escândalo de corrupção na Petrobras como “um nojo”, um “aborto da natureza”, e disse que nunca foi bem visto pela companhia.
“(O) Pessoal da Petrobras me detestava. Eu na Petrobras? Eu era persona non grata”, disse, negando a existência de contratos entre suas empresas e a petroleira estatal. Mais tarde, por insistência dos procuradores, Eike reconheceu participar de um contrato com a companhia – justamente aquele que é investigado pela Polícia Federal desde setembro do ano passado.
Eike também fez elogios à Operação Lava Jato e à atuação dos procuradores: “Vocês têm orgulho do Brasil”, “Vocês começaram a mostrar esse cartel que fazia a Petrobras”. E pediu a palavra para enumerar contribuições financeiras que fez para a Olimpíada, para UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e para um hospital infantil no Rio de Janeiro.
“Então acho e sempre quis (me) mostrar como um exemplo, porque alguns brasileiros muito ricos não dão p***a nenhuma, né? Vou até falar mal de um, posso?”, indagou Eike, ao fim do depoimento.
“Não”, responderam os procuradores. “Senhor fique à vontade, mas não, não”, e encerraram a sessão.
BBC Brasil