Um caso envolvendo o assassinato brutal de uma menina de seis anos pelo próprio pai chegou ao fim nessa terça-feira (21) na Inglaterra, após um julgamento cujos detalhes chocaram o país.
Ellie foi morta dentro de casa, em outubro de 2013. Por unanimidade, o júri considerou seus pais, Ben Butler e Jennie Gray, culpados. Ele foi condenado a no mínimo 23 anos de prisão, e ela, considerada cúmplice, a 42 meses.
O crime consternou os britânicos pela violência – a criança apresentava lesões no crânio e na coluna comparáveis às encontradas em pessoas que sofrem acidentes de carro em alta velocidade – e também pelo fato de Butler já ter sido acusado de agredir a filha quando ela ainda era um bebê.
Ele havia conseguido recuperar a guarda da menina apenas 11 meses antes de ela ser morta, após uma campanha para convencer as autoridades de que a condenação inicial havia sido um erro. Ele foi inocentado da acusação de agressão ao bebê em 2009 e, posteriormente, apesar de objeções da polícia, do serviço social e dos avós, conseguiu recuperar a guarda da filha na Suprema Corte.
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Nesta quarta-feira (22), o avô materno da menina, Neal Gray, pediu a abertura de um inquérito público para investigar a atuação da Justiça no episódio e lembrou da reação de pavor manifestada pela menina durante o processo de recuperação de guarda pelos pais.
“Ela tinha pesadelos e se escondia toda vez que um assistente social nos visitava”, disse à BBC.
‘Pai perfeito’
Em fevereiro de 2007, quando Ellie tinha pouco mais de um mês de vida, exames constataram graves ferimentos em seu cérebro típicos de casos em que o bebê é violentamente sacudido. Na época, o pai e a mãe não moravam juntos e ela havia deixado a filha com ele. Na versão do pai, ele estava jogando no computador quando percebeu que a menina estava ‘sem movimentos e muito branca’. Ela foi levada a um hospital onde o problema no cérebro – do qual ela se recuperou posteriormente – foi detectado.
O pai foi considerado culpado pelas agressões e condenado a 18 meses de prisão em 2009, mas, três anos depois, a Justiça britânica o inocentou – a conclusão foi de que os ferimentos poderiam ter sido “acidentais”.
Isso ocorreu após uma pesada campanha pela absolvição de Butler, comandada pelo famoso agente publicitário britânico Max Clifford – que mais tarde seria condenado por assédio sexual.
Pouco antes de conseguir a vitória, o casal participou de programas de TV britânicos – na ocasião, Gray dizia que o marido “estava tentando ser o pai perfeito”.
A decisão de devolver a guarda, no fim de 2012, ocorreu mesmo após assistentes sociais e os próprios avós de Ellie, com quem a menina estava vivendo, tecerem fortes críticas ao pai.
“Ela (a juíza) vai ter sangue em suas mãos se fizer isso”, havia dito Neal Gray, o avô materno – segundo a imprensa britânica, o casal gastou todas as suas economias, que totalizavam 70 mil libras (cerca de R$ 350 mil), lutando contra o pai nos tribunais.
Ao absolver Butler, a juíza Mary Hogg escreveu: “É uma alegria para mim ver o retorno de uma filha para os braços de seus pais. Essa história não acaba hoje, ainda há trabalho a ser feito”.
Com a decisão, o serviço de proteção dos assistentes sociais à garota foi suspenso e substituído por uma agência independente, responsável pelo acompanhamento do retorno da criança ao convívio dos pais.
Na imprensa, foram publicadas várias reportagens sobre a “família injustiçada” e o primeiro Natal que eles passariam juntos. Poucos meses depois, ela seria assassinada.
BBC Brasil