Em novos áudios de conversas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que vieram à tona nesta quinta-feira (26), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aparece orientando uma pessoa identificada como Wandemgerg, que seria representante do senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS), sobre como fazer a defesa. A gravação aconteceu no dia 24 de fevereiro, antes da cassação. Na ocasião, Renan não sabia que Delcídio já era delator da Lava Jato.
Renan afirma que é preciso que o presidente do conselho, senador João Alberto Souza (PMDB-MA) peça diligências para não parecer que a investigação estivesse parada. Ele sugere que Delcídio faça uma carta mostrando humildade e que já pagou o preço pelo que fez.
Renan também ataca o procurador-geral da República, Rodrigo Janot: “Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa quer.”
Renan: O que que ele (Delcídio) tem que fazer… Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde… Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias… Família pagou… A mulher pagou…
Wandemberg: Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora.
Renan: Conselho de Ética. Falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras… O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado…
Wandemberg: (João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada…
Em outra gravação de Sérgio Machado, em 11 de março, o ex-presidente da Transpetro conversa com Renan. Eles criticam o procurador-geral da república, Rodrigo Janot e vários políticos.
Sérgio Machado: Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra.
Renan: Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava-jato) quer.
Sérgio Machado: É ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava-jato). Eles estão se achando o dono do mundo.
Renan: Dono do mundo.
Sérgio Machado: E o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais vulnerável do mundo.
Renan: É…
Sérgio Machado: O Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo! Há muito tempo.
Sérgio Machado: Como que você tem cara de pau, Renan, aquele cara Pauderney que agora virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino.
Renan: Pauderney Avelino.
Renan: Mendocinha.
Sérgio Machado: Mendocinha, todo mundo pô? Que *** é essa querer ser agora o dono da verdade?
Sérgio Machado: O Zé (Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer maluquice.
Renan: O Zé nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra. Que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra.
Sérgio Machado: O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda.
Renan: O PSB quer o impeachment, mas o Fernando (Bezerra) é um cara bom.
Sérgio Machado: Porque também entende disso que a gente está falando.
Renan: É.
Sérgio Machado: Porque tem que tomar cuidado porque esse *** desse Noblat [se referindo ao colunista Ricardo Noblat, do jornal “O Globo”] botou que essa coisa de tirar a Dilma é maneira de salvar os corruptos.
Renan: Tirar a Dilma? Manter a Dilma?
Sérgio Machado: Tirar a Dilma. Que é um processo de salvação, de salvação.
Renan: Que é a lógica que ela fez o tempo todo.
Sérgio Machado: É porque esse processo. Porque Renan vou dizer o seguinte: dos políticos do congresso se “sobrar” cinco que não fez é muito. Governador nenhum. Não tem como, Renan.
Renan: Não tem como sobreviver.
Sérgio Machado: Não tinha como sobreviver.
Renan: Tem não.
Sérgio Machado: Não tem como sobreviver. Porque não é só, é a eleição e a manutenção toda do processo.
Renan: É.
A assessoria do senador Renan Calheiros divulgou nota sobre a gravação:
O Senador Renan Calheiros reitera que não tomou nenhuma iniciativa ou fez gestões para dificultar ou obstruir as investigações da operação Lava Jato, até porque elas são intocáveis e, por essa razão, não adianta o desespero de nenhum delator.
Quanto ao caso do ex-senador Delcídio do Amaral, o senador lembra que acelerou o processo de cassação no plenário às vésperas da votação do impeachment. O desfecho do processo de cassação é conhecido, foi público e a agilização do processo foi destaque em vários jornais. Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou.
O Senador não pode se responsabilizar por considerações de terceiros sobre pessoas, autoridades ou o quadro político nacional.
Reafirma ainda que suas opiniões sobre aprimoramentos de legislação foram e continuarão públicas. Não apenas ao tema mencionado nos diálogos, mas também na defesa de que a pena para delações não confirmadas sejam agravadas.
Jornal do Brasil