A ministra Cármen Lúcia, relatora da Operação Zelotes no Supremo Tribunal Federal (STF), abriu inquérito para apurar suposto envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador Romero Jucá (PMDB-RR), presidente nacional do partido, com a venda de emendas a medidas provisórias relacionadas ao setor automotivo editadas pelo governo federal. Renan e Jucá já são investigados em outros inquéritos da Operação Lava-Jato por suposto envolvimento com fraudes na Petrobras. No caso de Renan, é o 12º inquérito que ele responde no STF — nove só na Lava-Jato.
Jucá está cotado para assumir o Ministério do Planejamento caso o vice Michel Temer assuma presidência da República. Cármen Lúcia abriu inquérito em março e, imediatamente, decretou sigilo. As investigações tiveram como ponto de partida um diário apreendido em poder do lobista João Batista Gruginski, um dos donos da SGR Consultoria. No diário, Gruginski anotou encontro que teve em São Paulo com outros dois lobistas, Alexandre Paes Santos, conhecido como APS, e José Ricardo Silva.
R$ 45 MILHÕES PARA SENADORES
Na conversa, APS teria falado sobre a negociação de R$ 45 milhões em propina para senadores favoráveis aos interesses das montadoras na medida provisória do setor automotivo editada em 2009 e aprovada em 2010. Na mesma conversa, APS mencionou os nomes de Jucá, Renan e do ex-senador Gim Argello (PTB-DF). Argello está preso em Curitiba, acusado de receber propina para evitar o depoimento de executivos de empreiteiras à CPI da Petrobras, entre outros crimes.
Interrogado pela Polícia Federal sobre o conteúdo das anotações, APS disse que os comentários que fez seriam referências a boatos que ouviu em São Paulo sobre negociações de uma emenda à medida provisória. Policiais e procuradores consideraram inconsistentes as explicações do lobista e levaram o caso ao STF.
Procurado pelo GLOBO, Jucá negou, por meio da sua assessoria, que tenha recebido dinheiro de lobistas: “Jucá ressalta que a acusação, feita por meio de uma anotação de diário, já foi desqualificada pelo próprio autor, o senhor Alexandre Paes dos Santos. Segundo o mesmo, as anotações feitas por ele sugerindo propina a três senadores tratavam de boatos”. A defesa de Renan não foi localizada.
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