Um dia após o PMDB ter decidido desembarcar do governo por aclamação, a resistência dos ministros do partido em deixar seus cargos provocou embaraços que podem atrapalhar a reforma ministerial que o Palácio do Planalto desejava concluir até o fim da semana para recompor a base aliada e evitar a aprovação do processo de impeachment.
A quarta-feira girou em torno da polêmica sobre a permanência dos seis ministros peemedebistas, depois de o partido ter aprovado moção que desautoriza filiados a exercerem cargos no governo. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu — considerada uma das mais governistas no PMDB — polemizou ao dizer que não sairá do ministério, nem do partido. A ministra chegou a propagar a versão de que havia um acordo entre os seis ministros para que tirassem uma licença do partido e, assim, pudessem permanecer no governo. A ideia foi refutada pela cúpula do PMDB, que alega não haver previsão de licença para este caso.
TEMER DESAUTORIZA LICENÇAS
O vice-presidente Michel Temer desautorizou qualquer licença dos ministros que não queiram deixar os cargos e, por meio de interlocutores, avisou que eles poderão sofrer processo no Conselho de Ética da sigla. A reação, no entanto, não deve ocorrer neste momento. Há uma avaliação de que Kátia Abreu quis tensionar a relação com o partido porque pretende deixá-lo e, ao mesmo tempo, servir ao Palácio do Planalto ao criar uma situação de desunião no PMDB.
O senador Romero Jucá (PMDB-RR), vice-presidente do partido e responsável por comandar a reunião relâmpago que aprovou o desembarque do governo, disse que nenhum ministro pediu licença e que cada caso será analisado em seu devido tempo.
— Não chegou nenhuma comunicação para o partido. Se a Kátia Abreu quiser se licenciar do PMDB, ela terá que entrar com um pedido, que será analisado de acordo com a burocracia interna. Mas achamos que, antes de se explicar para o partido, ela tem que se explicar para os eleitores. Lotear cargo e dar verbas não resolvem o problema do Brasil — disse o senador.
A relutância dos ministros do PMDB de abandonarem o governo é um fator inesperado, que tem criado uma saia justa para a presidente Dilma Rousseff, que prepara uma reforma ministerial para, justamente, preencher os espaços que vagariam com o desembarque do ex-aliado. Um auxiliar da presidente relatou que ela ficou constrangida com as manifestações que recebeu dos ministros peemedebistas que desejam permanecer na Esplanada.
— São os ministros OLX, têm que desapegar, mas não desapegam — disse o assessor.
O Globo