Após dias de reclusão em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer desembarcará em Brasília amanhã para tentar unificar o PMDB em torno da decisão majoritária de deixar o governo Dilma Rousseff. Nas contas de integrantes da cúpula do partido, já há maioria folgada para o rompimento de cerca de 80% dos votos do Diretório Nacional. O governo ainda tenta arregimentar apoio do principal partido aliado, mas admite que, na reunião do diretório, terça-feira, a derrota é inevitável. A ofensiva vem em forma de uma “operação de varejo” sobre os demais partidos da base aliada, que também ameaçam seguir os passos do PMDB, no momento em que o governo faz as contas para conseguir o apoio de 172 dos 513 deputados para barrar o processo de impeachment na Câmara. Planalto e PMDB já dão como certo o rompimento.
O objetivo de Temer é fazer com que o PMDB saia da reunião, marcada para terça-feira, unido para um projeto de poder próprio. O principal eixo das conversas do vice-presidente será o acerto da situação daqueles que mantêm cargos no governo e não querem abandoná-los. Na Esplanada, há sete ministros peemedebistas. Temer tenta sair do encontro como um conciliador entre as tendências do PMDB. Para articular uma tentativa de consenso, desistiu da viagem que faria a Portugal e estará em Brasília na véspera do encontro.
— Michel vai conversar com todo mundo. Ele ficou no Brasil com o único objetivo de conseguir a unidade do partido e do Brasil — afirma um peemedebista próximo ao vice.
Entre os sete ministros do PMDB, três, na avaliação da cúpula do partido, devem rejeitar o desembarque: Eduardo Braga (Minas e Energia), Kátia Abreu (Agricultura) e Marcelo Castro (Saúde). São os ministérios de maior porte, e os nomes são vistos como escolha da presidente. Henrique Alves (Turismo) e Helder Barbalho (Portos) devem deixar seus postos após a reunião de terça. Ambos são considerados ministros da cota de Temer. Mauro Lopes (Aviação Civil) tende a seguir a maioria da bancada de Minas Gerais, que se diz favorável à saída do governo. Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) deve se licenciar da legenda para se manter no cargo.
Os ministros terão como prazo até 12 de abril — 30 dias após a data da convenção do PMDB — para decidir que rumo tomar.
— O ideal é que permitam uma licença para os ministros que desejam permanecer ao menos até o dia 12 para vermos como o governo vai reagir. Mas já sabemos que o grande problema do governo tem sido a capacidade de reação. É difícil ver uma saída a partir de agora com a decisão do PMDB, que deve ter efeito dominó. O simbólico já está decidido e parece um processo que não terá volta — disse um ministro do PMDB que é contra o rompimento com o governo.
Está marcada para amanhã uma reunião entre os senadores e os ministros da resistência para tentarem uma posição conjunta sobre como lidar com a decisão do comando do partido. A iniciativa do Rio de Janeiro de abandonar o governo terá efeito cascata sobre os demais diretórios, na avaliação de peemedebistas.
O Globo