Na oposição, o pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é visto como uma consequência da reação extremada de apoiadores dele ao pedido de condução coercitiva feito pelo juiz Sérgio Moro. Para os líderes, ao tomar tal atitude, os promotores de São Paulo têm elementos de culpa formada. No entanto, o PSDB reagiu com cautela sobre o pedido. Na avaliação da cúpula do partido, pedir a prisão de um ex-presidente da República ainda na fase inicial de investigação seria uma medida extrema. Há ainda o temor do arrefecimento dos ânimos, às vésperas das manifestações de domingo.
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), conversou com alguns tucanos e demostrou preocupação, segundo parlamentares. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima, disse que esse pedido de prisão é algo inusitado.
— Diante das circunstâncias que o país vive e o aumento da temperatura, o pedido de prisão ainda na fase de inquérito de um ex-presidente da República parece uma medida extrema. Não é um momento banal e é preciso que todos tenham consciência da gravidade do momento — disse Cássio.
Ele disse ainda que é preciso não se “acirrar” os ânimos neste momento e que deve ser mantida a questão na esfera policial e da Justiça e não na esfera política. Em nota, ele foi ainda mais enfático:
“Não estão presentes os fundamentos que autorizam o pedido de prisão preventiva, até porque o Ministério Público Federal e a Polícia Federal fizeram buscas e apreensões muito recentemente buscando provas. Vivemos um momento incomum na vida nacional. É preciso ter prudência”, disse o líder.
Nos bastidores, integrantes da oposição entendem que se impõe, neste momento, que os promotores apresentem, de forma célere à opinião pública, as provas que justifiquem o convencimento da medida contra Lula.
O DEM também adotou cautela. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), não quis comentar, afirmando que prefere aguardar a decisão judicial. Para o presidente nacional do DEM e vice-líder da legenda no Senado, José Agripino Maia (RN), a crise sem precedentes vivida no país e a reação de estímulo ao confronto geradas pela condução coercitiva de Lula pode ter motivado esse novo pedido de prisão preventiva. Agripino disse que o momento recomenda sensatez e respeito às instituições.
— Estamos vivendo uma crise sem precedentes em que uma condução coercitiva provocou reações de estímulo a um confronto. O pedido de prisão não é de um, mas de três promotores que devem ter elementos de culpa formada para tomar essa atitude que evidentemente, pela circunstância de quem se trata, é extrema. Tomam essa atitude para que as investigações possam chegar a termo. O que nos resta agora é aguardar a definição da juíza — disse Agripino, acrescentando:
— A hora recomenda reflexão, sensatez e apoio às instituições para que elas cumpram o seu dever.
O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA) também ressalta a solidez das instituições:
— Para chegar a esse ponto acredito que o Ministério Público estadual tenha reunido comprovações suficientes de prática de delito até porque os indícios de provas materiais reveladas nos últimos dias são bastante robustas. A reação que nós vimos ( à condução coercitiva), foram manifestações de correligionários ligados ao ex-presidente. Acho que o país é bastante maduro, temos uma democracia consolidada e as instituições funcionamento plenamente.
Segundo interlocutores da oposição, os promotores de São Paulo não têm a aura de respeitabilidade de Moro e a reação dos petistas deverá ser bem mais forte e com resultados imprevisíveis.
O Globo