Prejudicados por quase 140 dias, segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) começaram a ser atendidos ontem, quando os médicos peritos de todo o Brasil retomaram os trabalhos. Os profissionais ficaram por mais de quatro meses de greve, que foi motivada pela reivindicação por melhores condições de serviço. Com isso, mais de 2 milhões de brasileiros empacaram na fila da perícia. Em Minas, foram 26,5 mil e, em Belo Horizonte, 2 mil segurados estão à espera de atendimento. Perícias estão sendo agendadas para março, para desespero dos que precisam do benefício financeiro, em meio à crise econômica. E o retorno dos médicos ainda é instável, já que, segundo a Associação Nacional dos Médicos da Previdência Social (ANMP), eles estão em “estado de greve” e, como ainda não houve acordo para as reivindicações, a qualquer momento eles podem cruzar os braços novamente.
Antes da paralisação, que começou no país em 4 de setembro do ano passado, o agendamento da perícia médica era de oito dias em BH e, agora, subiu para 44. No país, passou de 20 dias para 89. Para dar conta do atendimento, segundo o INSS, estratégias estão sendo traçadas.
“A nossa ideia é priorizar aqueles que não passaram pela perícia e estão sem resposta e sem o benefício”, comenta a coordenadora da Saúde do Trabalhador na regional do INSS Sudeste II, Junia Aparecida Guimarães. Ela diz que quem já passou pelo atendimento médico e teve a sua incapacidade para o trabalho comprovada, tem recebido o benefício. “Se a pessoa quebrou uma perna em novembro, por exemplo, e não conseguiu ser atendida, não consegue receber. Vamos tentar acelerar esses atendimentos”, afirma.
Ontem, o taxista Rodrigo Nascimento, de 39 anos, enfim foi atendido. Ele amputou o pé em novembro e, desde então, está sem trabalhar, à espera da perícia médica. “Tenho mais de 22 anos de contribuição e, quando liguei para o INSS, em novembro, agendaram para hoje (ontem). Estou sem trabalhar e sem receber, é muito difícil, porque tenho minhas contas e o país está vivendo uma crise econômica”, comenta.
Ontem, Rodrigo foi atendido e o médico lhe disse que, entre 10 e 15 dias, ele receberia uma carta com as orientações. O INSS garante os efeitos financeiros decorrentes dos benefícios concedidos retroativos à primeira data agendada, mesmo que a perícia médica tenha sido remarcada no período de paralisação. Ou seja, como no caso de Rodrigo, que procurou o instituto em novembro e, por causa da greve, teve que esperar dois meses pelo atendimento, ele vai receber o benefício com o retroativo.
Diante da fila que está à espera do serviço, Junia Guimarães avisa que não adianta o segurado ir às agências na tentativa de antecipar seu atendimento, porque pode perder o seu tempo. “Todas as antecipações vão ser feitas pelo próprio INSS, por meio de carta ou telefonema”, alerta. Outra estratégia, segundo a coordenadora, é fazer mutirões de atendimento. “Em BH, acreditamos que em cerca de 40 dias, a situação esteja regularizada. O problema são as cidades pequenas, onde pode não haver profissionais disponíveis para se deslocarem”, afirma.
Mas, segundo o representante dos médicos peritos de BH e delegado da ANMP, Leonard Joseph Taves, para que haja mutirões, é preciso acordo. “A greve vem evoluindo desde o dia 4 de setembro e, em BH, desde o dia 8. Foi difícil tomar a decisão de fazê-la, pois, primeiro, tentamos acordos com a direção do INSS, mas, como não houve, decretamos a paralisação”, conta Taves. Ele diz que, em alguns casos, houve adesão de 100% dos profissionais. “Mas mantivemos um nível de assistência de 30%. Porém, em 26 de novembro, o INSS passou a reter o pagamento dos dias parados. Os médicos e segurados foram prejudicados.” O retorno ao trabalho, ontem, não é a garantia de que não haverá novas paralisações. “Estamos em estado de greve e a qualquer momento pode haver uma nova paralisação. Ainda não conseguimos uma resposta do governo à altura das nossas reivindicações”, diz.
FALHA NO SISTEMA
Depois de esperar por sete meses para ser atendido pelo INSS, ontem, o microempresário Cristiano Batista, de 25, voltou frustrado para casa. Ele quebrou o braço em julho do ano passado e, sem poder trabalhar, fechou o seu bar por dois meses. “Já até voltei a trabalhar, mas preciso do benefício do INSS para repor o meu tempo afastado. As coisas estão caras demais, tenho aluguel para quitar e preciso do dinheiro”, afirma.
Ele foi atendido pela perícia do INSS em 17 de dezembro e, desde então, não recebeu a quantia que espera. Ontem, soube que o sistema do instituto está com problemas para a revisão de benefícios e foi orientado a procurar a ouvidoria do instituto para reclamar. “Estou voltado para casa sem nada, e sem previsão de quando vou receber”, lamentou. O INSS não soube explicar o que houve com o sistema e, segundo a atendente que atendeu Cristiano, ele não é o único caso. Em uma semana, já foram cinco.
Estado de Minas