Antes de fechar acordo de delação premiada, Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, contou à Procuradoria Geral da República (PGR) que a venda da petrolífera Pérez Companc, em 2002, envolveu pagamento de propina de US$ 100 milhões ao governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, conforme publicou o jornal “Valor Econômico” nesta segunda-feira. A empresa argentina foi comprada pela Petrobras por US$ 1 bilhão.
No depoimento, Cerveró contou que soube da suposta propina por diretores da Pérez Companc e por Oscar Vicente, ligado ao então presidente argentino Carlos Menem. O delator não disse quem pagou nem quem recebeu a propina.
Em nota, divulgada pelas redes sociais, o ex-presidente Fernando Henrique rebateu as afirmações de Cerveró:
“Não tenho a menor ideia da matéria. Na época o presidente da Petrobras era Francisco Gros, pessoa de reputação ilibada e sem qualquer ligação politico partidária. Afirmações vagas como essa, que se referem genericamente a um período no qual eu era presidente e a um ex-presidente da Petrobras já falecido, sem especificar pessoas envolvidas, servem apenas para confundir e não trazem elementos que permitam verificação”.
Segundo as informações de Cerveró, Oscar Vicente seria o principal operador de Menem. “Durante os primeiros anos da nossa gestão, permaneceu como diretor da Petrobras na Argentina”, disse Cerveró.
PRÊMIOS PELA VENDA
O ex-presidente argentino foi condenado em janeiro de 2015 a quatro anos e meio em razão de um caso de corrupção durante seu governo (1989-1999). Dois anos antes, em junho de 2013, Menem já havia sido condenado a sete anos de prisão por conta de contrabando de armas para a Croácia e o Equador também durante seu governo.
Além de citar Vicente e Menem, Nestor Cerveró contou que diretores da Pérez Companc e Vicente receberam prêmios milionários pela negociação da petrolífera.
“Cada diretor da Pérez Companc recebeu um milhão de dólares como prêmio pela venda da empresa e Oscar Vicente, 6 milhões. Nos juntamos a Pérez Compac com a Petrobras Argentina e criamos a Pesa (Petrobras Energia S/A) na Argentina”, lembrou Cerveró.
Segundo o “Jornal Nacional”, Cerveró também citou a intermediação na venda da Transener, empresa de transmissão de energia argentina, em 2007, e disse ter participado de reuniões com um ministro argentino e de um jantar para tratar da venda. Cerveró afirmou que a maior parte da propina relacionada a esse negócio ficou na Argentina, mas que ele e “Fernando” teriam recebido US$ 300 mil, cada. Fernando seria Fernando Baiano.
Em sua delação, Baiano já havia citado a Transener e dito que, para acertar a transação dentro da Petrobras, recebeu US$ 300 mil.
Cerveró foi preso pela Operação Lava-Jato em janeiro do ano passado. A delação premiada está sob sigilo.
Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, no período em que era diretor da Área Internacional, Cerveró recebeu propina em diferentes contratos da Petrobras, incluindo a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.
O ex-diretor já foi condenado pela Justiça Federal por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em sua delação, Cerveró citou supostos pagamentos de propina para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e para os senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) e Delcídio Amaral. Renan já negou as acusações. Procurada pelo “G1”, a defesa de Delcídio disse que não vai se manifestar. Já a defesa de Jader Barbalho disse que o senador não vai se pronunciar por enquanto.(Com G1)
O Globo